A siriema da Radio Clube

Um dia cheguei às 6h30, na Radio Clube FM e o Dirley Bozzoni, que abria a radio às 6h00 da manhã, estava sem o seu tradicional bom humor. Ele dava uns 10 bom dia: ‘Bom dia Haroldão’... Naquele dia ele estava bufando, pior que os dias em que o Lunardi, diretor da radio, pegava no pé...

- Amaral, venha ver o que fizeram em meu carro!, disse, já me puxando pelo braço, sem que desse tempo ate de ligar o computador para produzir as matérias do Jornal da Clube. Lá fui...

Ainda estava escuro e ele acendeu um isqueiro para me mostrar o que as Siriemas haviam feito em seu carro.

- As lazarentas subiram em cima e ainda por cima ciscaram o capô e o teto. O bicho fdp... praguejava... De fato as Siriemas fizeram um estrago em seu carro cinza ou preto, agora com efeitos de unhadas com riscos brancos...

Eu compartilhava solidariedade, mas por outro lado não poderia de me aliviar, pois minutos antes, havia ficado paralisado nos 50 metros de acesso, num escuro dia de trabalho que estava se iniciando.

A Cultura FM havia se convertido ao dinheiro do Bispo Edir Macedo e todos haviam sido demitidos. Eu e o Dirley fomos para a Clube e não havia nem completado o segundo mês, encarei o maior de meus medos.

O Dirley já conhecia a danada da Siriema, mas eu nem me lembrava delas, embora já tivesse acompanhado suas peripécias na sede da Diretoria Regional do CIESP, onde elas sangravam brigando com a própria imagem, para o desespero de Márcia Novelli, [mãe do jornalista Kleber]. A siriema era tão brava quanto o Kleber Novelli, falando nisso...

Cheguei naquela manhã e do meio do nada e nada bem escuro, diga-se de passagem, uma imagem que me paralisou: Uma asa enorme extendida de ponto a ponto, com quase dois metros, uma cabeça fina, quase invisível, saiu pulando do meio de um buraco em minha direção.

Achei que anjo da guarda não era, mas poderia ser o demônio. O coisa feia, fazia uns esganidos e corria em minha direção. Não dava para correr pois travou tudo. Olhei na escuridão na esperança de achar uma pedra, um pedaço de pau, uma metralhadora, mas nada surgiu a altura das mãos.

Nesse tempo de segundos, imaginei em me agarrar com o demônio, que na verdade era a Siriema. Quando me preparava para receber e dar os primeiros muros, a lá Mike Tyson, percebi que a minha coragem assustou o demônio que se desviou de mim e num ato rápido pulou a cerca e correu.

Enquanto me recuperava do susto, que se não tivesse liberado o 1 e 2 antes de ir ao trabalho, teria feito ali mesmo, com um sabor estranho na boca, meio que anestesiado, fechei os punhos e subi até a radio.

O susto foi ver o Dirley nervoso, quando nunca estava, mas para a minha sorte, antes que pudesse dividir minha experiência demoníaca com ele, me informou da bendita diabinha Siriema que antes de me assustar com forças ocultas, cravou as garras na lataria de seu Fiat/Tempra, se não me engano.

Havia uma mensagem subliminar do demonismo com aquela historia toda da Radio Cultura e a Igreja Universal, que segundo seus pastores, vive espantando demônios por ai, deve ser por isso que transformei uma bela siriema em demônio. Também aquelas asas abertas, uma perna fininha, passos largos, uns esgarnidos...

Tempos depois um casal de Siriema foi visto novamente em cima do prédio da radio e admirando os carros expostos da Fiat na Lapenna. Meses mais tarde virou atração até na TV TEM, que gravou imagens das Siriemas em cima de um dos carros expostos para venda.

A siriema ia vez por outra também à Radio Criativa, na Staroup, adorava roubar ração em uma empresa da região e bater na porta da Anidro do Brasil, certamente atraída pelo cheirinho gostoso de doce que exalava sempre...

Quase sempre, nos 3 anos que trabalhei na emissora, as encontrava nas manhãs quentes. No inverno ela sumia. Uma época desapareceu, mas surgiu com uns filhotinhos.

Que o adensamento habitacional naquela região não provoque, se é que já não provocou sua morte. Que se encontre uma forma de proteger aquela diabinha linda...

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