Isabela já morreu, outras ainda sofrem e morrerão...


[trago flores pro teu coração!, Porão 365]


Isabela eu não tenho pena só de ti, tenho pena de outras que não sei o nome e ainda não morreram. Muitas morrerão bem depois dos 18, numa briga de bebedeira qualquer com amigos ou em uma boca de fumo, numa bobeira qualquer com a policia.

Fico imaginando as isabelas e isabelos que de minha época tombaram sem cair do prédio. Não gostaria de ser enforcado e jogado pela janela, mas não gostaria de morrer de fome ou espancado por meu pai bebado.

Tampouco gostaria de ser aquela menina de 3 anos que melhor teria sido, tivesse morrido, a sofrer o espancamento do padrasto, sob o olhar sei lá de que forma da minha avó. Tampouco, mesmo tendo mãe, tivesse eu de viver com minha tia, sem meus pais, olhando os dias passarem olhando televisão, quando a chama de minha vida tivesse apagado e vegetasse, olhando televisão na casa de minha boa tia, em rubião jr.

Isabela como deve ter sido assustador ser jogado do sexto andar, mas deve ser ainda mais, o estampido de uma arma na cabeça, disparado por justiceiros fardados e das torres das quadrilhas. Ao menos é mais rapido...

Isabela sua vida foi curta, mas que não tenha sido para madames e ignorantes em geral, da qual me incluo, imaginarem quantos carrascos estão ao nosso lado. Meu vizinho pode estar cortando o pescoço de sua filha, violentando, mas eu não tenho nada com isso...Tenho de ter assunto para manifestar alguma indignação amanhã em meu trabalho, minha escola, meus amigos...

Não vou chorar por ti, isabela, vou chorar por ter vivido de forma tão pequena, sem me incomodar com o choro que vem da casa de meu vizinho não me atingir doloridamente, quanto o show que voce me proporciona....

Criança, da banda de confronto, 365


[São Paulo, 365 - 'Diga sim que eu digo não!']

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