A História da Chegada dos Freis Capuchinhos a Botucatu, contada por quem a viveu
Textos de Frei Modesto Rezende, dados a público pela primeira vez em 1958/59, por iniciativa de Frei Liberato de Gries
Esta série de artigos, foi dada ao público pela primeira vez há 50 anos atrás. Através do jornal A Folha de Botucatu, e por iniciativa do Frei Liberato de Gries – Guardião da Ordem em Botucatu naquele tempo – a série pretendeu, na época, comemorar os 50 anos da chegada da Ordem Franciscana em nossa cidade. Descrevendo com cores vivas a trajetória de acontecimentos vividos pelos capuchinhos em Botucatu, e com assuntos abordados com viva sinceridade pelo primeiro Superior, Frei Modesto Rezende, a série é um documento que não poderia continuar esquecido dos botucatuenses, agora que a sua chegada a Botucatu completa 100 anos. Este mergulho no passado reascende velhos temas, e coloca lente sobre uma cidade mal saída do século XIX, com todos os seus sucessos e problemas, desnudando em parte as circunstâncias em que foram edificadas as bases sobre as quais a Botucatu de hoje se assenta.
por João Carlos Figueiroa.
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- I -
29.11.1958
No próximo ano de 1959 os Frades Capuchinhos do Santuário de Lourdes celebrarão o 50º aniversário de sua vinda e de seus trabalhos em nossa cidade.
Por isso, vamos hoje começar a publicação de uns artigos, resumo histórico do fato, escrito pelo R.P. Frei Modesto Rezende, que teve papel tão importante nos primeiros anos, e na edificação do querido Santuário de Nossa Senhora de Lourdes. Frei Liberato de Gries
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Partiu de D. Lúcio o convite para nos estabelecermos em Botucatu.
Recém sagrado em Roma, ao passar por S. Paulo, com destino à sua Diocese, hospedou-se no palácio do seu Metropolita, com quem passou duas semanas. Dele recebeu todas as informações de que necessitava para organizar o seu plano de administração.
Dom Duarte Leopoldo e Silva [Foto acima] foi franco e positivo em lhe dizer que a zona era muito trabalhosa, e que o clero da região era muito reduzido. Havia paróquias enormes em extensão com um só sacerdote; outras populosas sem sequer um coadjutor. Nem todas as paróquias estavam providas. Grande parte do clero era constituída de sacerdotes idosos, alguns já muito cansados, quase impossibilitados de atender aos serviços paroquiais.
Religiosos não havia, a não ser dois ou três beneditinos, e três capuchinhos em Penápolis, pleno sertão da Noroeste.
Mostrando-lhe o mapa de S. Paulo, acrescentou: “Como V. Excia. vê o território é muito vasto. Os limites da Diocese são estes: aqui está o túnel da Piragibú, na linha Sorocabana. Fazendo um arco, a partir do oceano, na ponta de Peruhybe e terminando no Rio Tietê, passando por Piragibú, temos o limite com a Diocese de S. Paulo. Pelo Tietê segue até o Mato Grosso. Desce pelo Rio Paraná até a foz do Rio Paranapanema. D’ali, até o oceano, segue pela divisa dos dois Estados, para, a seguir subir pelo mar até a ponta de Peruhybe; Metade do nosso Estado.”
Bem pouco povoada a região fronteiriça com o Estado do Paraná; e, de Bauru em diante, mata virgem, habitada pelos índios.
Ultimamente, os capuchinhos têm-se empenhado em catequizar esses índios, e é por isso que lá se encontram esses em Penápolis, por não terem conseguido aproximar-se deles, em uma tentativa levada a efeito em Campos Novos do Paranapanema (estou narrando o que D. Lúcio me contou, quando viajei com ele em visita pastoral).
Alguns outros, como Frei Silvério, Frei Policarpo e Frei Vicente, têm pregado algumas missões em Iguape, em Avaré e em Santa Cruza do Rio Pardo, com grande proveito para as almas.
A essa altura, D. Lúcio perguntou ao arcebispo se seria possível conseguir uma casa desses Padres, em Botucatu, afim de que se encarregassem das missões populares nas diversas paróquias do bispado.
O Arcebispo transmitiu a pergunta ao seu confessor Frei Silvério, o qual respondeu afirmativamente. Assim sendo, D. Lucio se animou a ir se entender com o nosso Superior.
Levando um cartão de D. Duarte, foi ao convento da Imaculada Conceição para falar com o Superior Regular – Frei Camillo de Valda.
Disse-lhe D. Lúcio que desejava para a sua Diocese uma casa dos seus religiosos, e que, essa casa deveria ser em Botucatu. Com eles desejava contar para as missões populares em todas as freguesias do seu bispado, e que um deles o acompanhasse nas visitas pastorais. Duas finalidades, que não devemos deixar desaparecer da memória.
Frei Camillo concordou, prometendo-lhe mandar logo dois, e mais tarde, outros três.
A combinação feita, como veremos, foi incompleta; ou então frei Camillo se esqueceu de perguntar a Do. Lúcio: “Para quando os queria?... E quem os sustentaria?... Já agora, o leitor não se surpreenda com o que vai ler nestas linhas.
D. Lúcio só tomou posse da Diocese no dia 28 de Fevereiro, e já encontrou em Botucatu Frei Calixto de Taio e Frei Virgilio de Breguzzo. Houve, por certo, alguma precipitação. Ninguém os esperava. Nada estava preparado. Hospedaram-se na casa do Vigário. Era Vigário da Paróquia Mons. Pascoal Ferrari; coadjutor, Padre Caetano Jovino.
Não havia capelanias, nem de hospitais e nem de colégios; portanto faltava colocação para os capuchinhos recém-chegados. Nada planejado sobre missões; e não é de uma hora para outra que se prepara uma missão.
O Snr. Bispo acabava de chegar. Não tinha marcado ainda a sua primeira excursão em visita pastoral. Foi o primeiro problema que encontrou para resolver.
Vaga se encontrava a paróquia de Itararé, no extremo da linha Sorocabana, ramal do Sul. Foi nomeado vigário dessa paróquia o coadjutor de Botucatu, e o Padre Caetano Jovino partiu logo para lá. Com isto pensou D. Lúcio resolver o caso nomeando-os coadjutores de Botucatu, mas eles não aceitaram. Estranharam, porque não era este o fim pelo qual tinham vindo a esta cidade. Seria para eles um caso novo, que nunca tinham visto – um Frade ser coadjutor de um Padre secular. Quando uma paróquia é confiada à religiosos, tanto o vigário como o coadjutor são da mesma Congregação.
Como fazer? Acharam melhor pedir a vinda do Superior Regular a Botucatu, Veio e conferenciou com o Snr. Bispo. Terminada a palestra, ambos saíram e deram um passeio a pé pela cidade. Além da Matriz só existia uma Igreja muito velha e estragada – a Igreja de S. Benedito.
- II –
06 dez 1958
D. Lúcio a ofereceu aos padres. Tinham pois, onde exercer o seu apostolado, sem serem coadjutores. Aos poucos iriam recebendo intenções de missas e, talvez, convites de outros vigários para os auxiliarem em suas paróquias.
E casa para morarem? Perto da igreja havia uma desocupada. A proprietário – D. Izabel Aranha, pedia por ela doze contos. Frei Camilo a comprou para servir de residência aos frades. Para ela passaram os religiosos com suas malas.
Naquela casa faltava tudo. Não havia mobília de espécie alguma. Frei Camilo voltou a S. Paulo e providenciou o que lhe pareceu ser o mais necessário. Mandou um irmão leigo para os serviços domésticos e para sacristão, sr. Luciano Peterlini.
Para completar a primeira família religiosa dessa casa o Superior me transferiu de Piracicaba para esta cidade. Cheguei na tarde do dia 22 de abril de 1909 (a data confere com o meu Diário de Missas que vem sendo feito desde o dia de minha ordenação, a saber, desde o dia 16 de junho de 1907).
Logo que cheguei fui me apresentar ao sr. Bispo e dizer-lhe que era o designado pelo Superior Regular Frei Camillo para o acompanhar em visita Pastoral.
D. Lúcio estava se preparando para a primeira excursão. Na tarde do dia 24, que era sábado, partimos para S. Manuel. Iríamos até Bauru, Pederneiras e Piratininga, que eram as últimas cidades naquela zona. Levávamos conosco o nosso itinerário e programa, feitos para toda a primeira visita pastoral. Em resumo era o seguinte: ficaríamos apenas três ou quatro dias em cada paróquia. Havendo tempo visitaríamos também algum núcleo mais populoso. Só voltaríamos à sede no fim de três meses. Depois de um curto descanso de uma semana. recomeçaríamos o nosso trabalho em outra zona, por mais três meses. A seguir, outro descanso de uma semana na sede, e assim por diante até o fim.
Em um ano e dois meses, percorremos toda a Diocese. Ficamos conhecendo, in loco, tudo o que havia de bom, e tudo o que devia ter consertado. Viajamos umas trezentas léguas a cavalo. Viajamos de trole (automóveis não havia), viajamos a pé... Dormíamos poucas horas à noite, porque o serviço de confessionário nos prendia na igreja ou na capela até muito tarde. Afinal, regressamos: D. Lúcio para Botucatu e eu, doente, para o convento de S. Paulo.
Em Botucatu já não era mais Superior o Frei Calixto e sim o Frei Virgilio. Os companheiros eram outros. O movimento religioso em nossa igreja era regular. Mesmo assim ainda pairavam dúvidas sobre nossos companheiros sobre se haveríamos de continuar morando em Botucatu ou transferirmos nossa sede para outra cidade.
Para a consolidação de nossa permanência, faltava uma coisa: uma base para a nossa sustentação. Já se vê, era essa a maior preocupação do Superior.
Nós, pelo nosso voto de pobreza, não podemos ser proprietários de coisa alguma. Patrimônio, não temos. Como é que havemos de viver? Do nosso trabalho, é claro. Mas esse trabalho, em que consiste? Na pregação, na administração dos santos sacramentos, na instrução, na catequese, na celebração da santa missa, na visita aos doentes, etc.
Ora, bem. Nada podemos cobrar pela visita aos doentes. A administração do sacramento do batismo, do matrimônio, da crisma, não pertence aos religiosos, a não ser que sejam párocos ou bispos. Resta, portanto, viver da pregação, da celebração de missas, ou de capelanias em colégios, hospitais e asilos, ou então como professores em estabelecimento de ensino, ou qualquer outro encargo que seja digno de um sacerdote e compatível com o hábito e a vida de um religioso.
Em Botucatu não havia estas possibilidades; por conseguinte os frades só podiam contar com remuneração das pregações e com as espórtulas das missas.
Naquele tempo a tabela das missas era a seguinte: três mil réis pelas missas comuns e dez mil réis pelas que fossem celebradas em dia e hora marcada. Pregação, ao arbítrio do vigário ou dos festeiros. Entre o povo não havia o hábito de mandar celebrar missas, a não ser de sétimo dia, de mês ou de aniversário da morte de seus parentes. Uma ou outra pessoa aparecia para mandar celebrar alguma missa de promessa.
Das paróquias não chegavam convites para pregações. Como viver, então? Era essa a maior, talvez a única, preocupação do Superior. Como bem podem imaginar os leitores, era crítica a situação dos capuchinhos.
S. Francisco nos dizia que quando, com o nosso trabalho não ganhássemos o suficiente para a nossa sustentação saíssemos a bater de porta em porta pedindo esmolas pelo amor de Deus.
O povo de nada sabia; e teria estranhado se fizéssemos isso. Para evitar críticas e comentários, o Superior local preferiu escrever a S. Paulo pedindo ao Superior Maior que o auxiliasse a pagar as contas de cada mês.
Quando em visita pastoral chegamos a uma freguesia da fronteira do Paraná, e ali encontramos um velho vigário – o Padre Guerreiro, que não cobrava nada dos seus serviços paroquiais, mas que tinha a casa sortida de tudo e com abundância, porque o seu povo tudo lhe dava, sem que ele precisasse pedir... lembrei-me dos meus companheiros de Botucatu, que não sabiam como fazer para obterem o necessário á sua subsistência.
-III-
13 dez 1958
Penso que, com muito acerto teriam agido se tivessem explicado ao povo que a Ordem Capuchinha é uma ordem mendicante e que nós não ficaríamos ofendidos e nem humilhados se as pessoas mais favorecidas pela fortuna nos dessem algumas esmolas por amor de Deus.
Corações generosos havia de haver, que se teriam compadecido de nossa penúria. Sem dúvida, tiveram acanhamento de o fazer. Preferiram calar-se. Quem sabe se foi melhor assim?!
Deus tarda, mas não falta. Lá longe, no velho mundo, estava a casa matriz da nossa Província (atualmente é o convento da Imaculada Conceição, em S. Paulo). O Provincial – Frei Affonso de Condino - resolveu vir fazer uma visita aos seus religiosos, moradores no Estado de S. Paulo. Veio em muito boa hora para todos nós. Havia vários problemas a resolver. Um desses era o de Botucatu.
Fino diplomata, pela segunda vez Provincial de Trento, chegou a S. Paulo e veio a Botucatu. Visitou os seus frades. Ouviu-os um por um. Visitou e conferenciou com o Snr. Bispo e ambos chegaram a uma conclusão, a saber: que seria conveniente trocar o pessoal de nossa casa e colocar à frente um que tivesse mais jeito de lidar com o povo, e adotar outro programa.
O Snr. Bispo achava que esse, de acordo com o costume vigente na Ordem, se conservasse no seu posto, ao menos por triênio, etc. Garantia ele que tudo havia de melhorar.
Voltou a S. Paulo o Padre Provincial e foi ao meu quarto. Disse-me: “Tudo está harmonizado. Prepare-se para seguir como Superior para Botucatu. Serão seus companheiros, aliás seus súditos, Frei Gregório de Rumo, Frei Polycarpo de Levico e o postulante a irmão leigo Frei Manoel de S. Paulo. Este ficará a seu cuidado até o dia de ir para o Noviciado. Cuidará dos serviços domésticos. Como sacristão continuará o Luciano Partelini.”
Dois venerandos Padres, respeitabilíssimos pela piedade, ambos muito criteriosos, muito prudentes, sempre prontos para o trabalho, muito zelosos para o bem das almas. O candidato a irmão leigo era uma alma simples e boa, dócil, obediente, bem moldável a todos os sãos princípios da virtude e da perfeição religiosa, como bem provou a vida santa que levou, até a morte. Melhores companheiros eu não poderia desejar.
Arrumamos nossas malas e partimos. Pela segunda vez eu vinha morar nesta cidade.
Aos 27 de julho de 1911, chegamos em Botucatu. Na manhã seguinte fomos todos visitar D. Lúcio e pedir-lhe a santa benção.
O Snr. Bispo nos recebeu com muita alegria e satisfação. Alegrou-se por verificar que o nosso Padre Provincial tomou em consideração o que com ele havia conversado, nomeando como Superior o seu velho amigo, e substituindo os que não se ajustavam bem às circunstâncias locais, por venerandos padres que demonstravam tanta virtude e grande experiência no amanho das almas.
Felicitou-nos e prometeu ajudar-nos em tudo aquilo que fosse possível. Voltamos para a nossa casa. No dia seguinte D. Lúcio nos deu o prazer de sua visita. Por largo tempo mantivemos com ele uma familiar palestra.
Como já conhecíamos, ele e eu, toda a Diocese, entramos a fundo nos assuntos interessantes e até mesmo delicados, e analisamos vários pontos sobre o status quo do Bispado.
Não estranhei. A nossa convivência de quase um ano e meio em visita pastoral nos tinha oferecido tantas oportunidades para estudarmos, juntos, os problemas dessa grande população derramada por essa vastidão enorme que constituía o Bispado de Botucatu.
Dias depois, chamou-me ao palácio. Queria comunicar-me que havia deliberado de acordo com a determinação do Concílio Plenário Latino-Americano, nomear os quatro Consultores Episcopais, e que eu seria um deles.
Chamou o Padre Manoel Pinto dos Santos, e mandou passar-me a seguinte provisão:
“D. Lúcio Antunes de Souza, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica Bispo de Botucatu, aos que a presente Provisão virem, saudação e benção do Senhor, fazemos saber que, cumprindo-nos, de conformidade com o Concilio Plenário da América Latina, eleger quatro Consultores Episcopais, de cujos conselhos se utilize o Bispo Diocesano, nas resoluções de maior importância relativas à administração da Diocese, segundo o nº 245 do citado Concílio e, concorrendo no Revdo. Frei Modesto de Rezende, Superior dos Capuchinhos residentes nesta cidade de Botucatu, as qualidades e partes que para tal se requerem, - Havemos por bem d’o eleger e prover no cargo de Consultor Episcopal deste Bispado, como pela presente o elegemos e Provemos, pelo tempo de três anos. Tomará posse deste cargo depois de ter em Nossas Mãos prestado o juramento de guardar o segredo do ofício, e bem desempenhar o seu dever. Dada e passada em nossa Câmara Episcopal de Botucatu, sob Nosso Sinal e Selo das Nossas Armas aos 3 de agosto de 1911. E eu, Padre Manoel Pinto dos Santos, Secretário Interino do Bispado a escrevi e subscrevo. (ass) Lucio, Bispo de Botucatu”.
- IV –
17 dez 1958
Fiquei confuso! Acabrunhado mesmo, sob o peso de tamanha responsabilidade.
Voltei do Palácio triste e perturbado!...porque não dizer... Pense o leitor, e reflita bem nos termos desta Provisão e logo compreenderá a razão desta tristeza.
Moço ainda, vinte e sete anos apenas... obrigado a dar conselhos a um Bispo!... e o mede de não acertar?...e o receio das consequências?... tudo me apavorava!
Lá em baixo, superior dos meus mestres; cá em cima, Consultor do snr Bispo...
Era eu que precisava de conselhos e não eles.
Senti-me sozinho num mundo estranho. Pequenino demais para tão grande peso. (nota: foi nessa ocasião que precisei registrar o meu nome acompanhado do sobrenome da Família – Frei Modesto de Rezende. E o fiz no Tabelião Veiga, rua de São Bento, em S. Paulo).
A Antiga Igreja de S. Benedito
Era muito velha. Consertada aqui, remendada ali, escorada acolá, estava servindo até que se fizesse uma nova.
Devia ser muito antiga. Fora construída de pau a pique. Provavelmente, quando a construíram, a cidade chegava até ali. Era o que se podia deduzir da posição em que ficara colocada, fora do alinhamento de todas as ruas que a circundavam.
Verdade é que havia um largo ajardinado no seu flanco direito; mas isso mais a prejudicava porque, devido ao acentuado desnível da praça, todas as águas pluviais vinham de encontro a ela, minavam-lhe os alicerces, concorrendo para o apodrecimento das toras de madeira, sobre as quais se tinham levantado as paredes.
Todos viram que a velha igreja não podia resistir por muito tempo.
Mais do que qualquer outro, eu compreendia a necessidade de se construir uma nova e, ao lado, o nosso convento.
Faltando, porém, tudo o que se requer para a construção de uma igreja, a começar pelo terreno, deixei para mais tarde esse empreendimento.
No momento, a tarefa que se me impunha era outra – a Reorganização do Catecismo.
O Catecismo
Entre o termo das nossas excursões com o Snr. Bispo, na primeira visita pastoral e a minha volta para Botucatu mediaram uns seis meses. Nesse tempo andei pregando em diversos lugares do nosso Estado de S. Paulo e Minas. Vim encantado com o método que eu vi, adotado na Catedral de Pouso Alegre. Simplesmente maravilhoso!
Como era esta a primeira ocasião que eu tinha para formar um Centro do Catecismo, tratei de não perder tempo. Ia fundar o meu Centro, segundo o de Pouso Alegre.
As Catequistas que já encontrei eram muito boas, piedosas, ativas e muito práticas na arte de lidar com crianças. Tinha certeza de que, com elas podia contar. Convidei-as para uma reunião e lhes expus o que pretendia fazer. Todas concordaram. (Ainda vivem algumas dessas ótimas auxiliares).
Imediatamente providenciei livros de Tombo, de Atas; Cadernetas para Catequistas, livros de Chamada, de Matrícula; cartões de notas; livro caixa, etc. Um Centro deve ter tudo isso.
Tudo isso preparado demos início à nossa organização.
O plano era este: todas as crianças seriam distribuídas em classes. 1ª classe - Sinal da Cruz; 2ª classe – Padre Nosso e Ave Maria; 3ª classe – Creio em Deus Padre; 4ª classe – Mandamentos; 5ª classe – Ato de Contrição e Eu Pecador; 6ª classe – Sacramentos; 7ª classe – Preparação para a primeira comunhão.
Cada classe teria uma Catequista e, sendo preciso, uma ou duas auxiliares.
Para padroeiro do Centro, recebemos de D. Maria Vilaça, residente no Rio de Janeiro, um lindo busto de S. Tercisio.
- V –
24 dez 1958
As aulas durariam de meia hora a quarenta minutos, ficando vinte minutos para a explicação geral eu o Diretor faria a todos.
Frei Modesto se incumbia dos hinos de abertura e encerramento das aulas. No início das aulas: - Cantos, Padre Nosso, Ave Maria e Credo. A seguir – Chamada feita pelo Diretor. A Presidente daria cartão de freqüência a cada um dos alunos presentes.
A um sinal do Diretor – Começo das aulas. A outro sinal do Diretor - as Catequistas suspendem as suas explicações. Explicação geral do Diretor. Canto pelas crianças do Hino de encerramento. Nota importante: As crianças não poderiam sair correndo e nem fazendo barulho ou algazarra, mas duas a duas, fazendo antes genuflexão para o Santíssimo.
Cada Catequista deveria dar aos seus alunos tantos cartões de Boa Nota quantas fossem as lições sabidas.
Ao Diretor pertencia dar os Cartões de Diligências pelos novos alunos que lhe tivessem sido apresentados pelos alunos.
O dia de Natal seria o dia da distribuição dos prêmios. Todas as crianças seriam premiadas, ainda que tivessem assistido só a uma aula de catecismo. Em tal caso só ganharia uma medalha, um santinho, um lápis ou coisa equivalente.
Os prêmios seriam comprados pelo Diretor, em S. Paulo, nas fábricas ou em casas comerciais em liquidação.
Duas semanas antes do Natal, cada aluno devia trazer os seus cartões dentro de envelope fechado, com o seu nome escrito na face externa do envelope e entrega-lo ao Diretor.
As catequistas entregariam ao mesmo as suas cadernetas para que ele pudesse conferir os cartões recebidos, antes de designar os prêmios competiam a cada aluno.
Os cartões que fossem encontrados a mais, seriam postos à margem, sem direito a prêmios.
Escusado é dizer que, no fim do ano, todos verificaram o bom resultado obtido por esse método. Já se notava empenho da parte das crianças em não faltar às aulas de catecismo.
Era o que queríamos.
Para o ano de 1912 já pudemos marcar duas festas de primeira comunhão, tal era a frequência e o número de alunos que tínhamos em nosso centro.
Faltava uma coisa: - o catecismo de Perseverança.
Liga de S. Francisco
O Catecismo de perseverança tinha que ser uma secção à parte. Era para ser formado de alunos que já tivessem feito a primeira comunhão, os quais passariam a estudar o segundo catecismo.
Acontecia, porém, que as crianças nem bem tinham comungado pela primeira vez, não mais apareciam. Acredito até que, alguns, nem se importavam de ouvir missa aos Domingos e Dias Santos. O pior é que os próprios pais eram do mesmo feitio. Quantas vezes, do púlpito e em particular, tentamos corrigir esse defeito do povo, e não conseguimos!
Conversando com D. Lúcio sobre esse mau costume que encontramos por toda a parte, e notadamente em Botucatu, disse-me ele: “Por quê não experimenta fundar uma irmandade para crianças, na qual só se aceitam crianças que tenham feito a primeira comunhão?”. É verdade...vou fazer isso! “Tratando-se de crianças, continuou ele, não se pode pretender muito. Os estudos devem ser facílimos e ao mesmo tempo apresentar algo que os atraia. Faça-os e traga-os para os aprovarmos”.
Comuniquei a idéia às Catequistas e nos pusemos a estudar os estatutos. Os distintivos haviam de constituir a parte atraente da nova irmandade.
Tudo feito, levei ao Snr. Bispo os estatutos, juntamente com a oração de S. Tarcizio. Ele os leu atentamente, aprovou-os e ainda anexou 50 dias de indulgência à oração do padroeiro do Catecismo e da Liga.
Mandei-os imprimir enquanto as Catequistas preparavam os distintivos. Estes consistiam em: Terno branco e uma faixa larga, verde, a tiracolo. As extremidades dessa faixa terminariam em franjas de canutilho dourado. Na parte da frente, também em letras douradas, o dístico: LIGA DE S. TARCISIO.
Os pais se incumbiram de preparar o terno branco para os seus filhos, e o nosso Centro deu-lhes, de graça, as faixas, medalhas de S. Tarcisio, exemplares dos estatutos e livrinhos de cânticos.
As Catequistas, espontaneamente, resolveram usar também como uniforme, saia preta, blusa branca e, sobre o coração, um laço de fita verde com a medalha de S. Tarcisio.
Em Piracicaba foi pintada a tela para o Estandarte por D. Maria Thereza de Andrade. Ela mesma se incumbiu de confeccionar o Estandarte, gratuitamente.
Para estrear, ou digamos melhor, para fazermos solenemente a instalação da irmandade das crianças, fizemos pela primeira vez a Festa de S. Tarcisio, com o aparato que nos foi possível. Foi um sucesso!... Muita gente! E muito entusiasmo! Contentamento geral!.
Reapareceram as crianças que, em épocas diversas, tinham feito a sua primeira comunhão. Todas queriam fazer parte da “Liga de S. Tarcisio”, prometendo cumprir os estatutos e, consequentemente, frequentar as aulas do Catecismo de Perseverança.
Tão rapidamente cresceu e aumentou a matrícula desses alunos, que foi preciso marcar hora em período da manhã, para as aulas serem frequentadas por elas.
- VI –
31 dez 1958
Ficou sendo, logo em seguida à missa das 9 horas, o Catecismo da Perseverança, em nossa igreja. Continuou sendo feita às duas horas da tarde a outra parte do catecismo geral.
A Liga passou a ter a sua vida própria. Era uma vida eucarística. Havia comunhão geral dos alunos do Catecismo de Perseverança no quarto domingo de cada mês.
Era para se ver a animação que reinava em todos. Mês por mês, crescia o número de comungantes. Chegou a ter duzentas e quarenta e quatro crianças comungando em certo domingo do mês, sem que fosse um dia de festa especializada.
Ia, a nossa Liga, de vento em popa! Que o digam as poucas catequistas daquele tempo que ainda vivem, umas em S. Paulo, outra no Rio e outras alhures.
Colaborando no governo Diocesano
Corria o ano de 1912. Circunstâncias imprevistas colocaram o Snr. Bispo em dura provação. De uma hora para outra viu-se privado do Chanceler do Bispado, Cônego Victorio Peyla. Os acontecimentos foram imediatamente comunicados por ele ao Sr. Arcebispo e à Nunciatura Apostólica. Precisou, no momento, nomear um outro de sua inteira confiança. Pediu ao Sr. Núncio que o autorizasse a nomear um capuchinho – o caso exigia, e ao nosso Provincial, que ainda se encontrava em S. Paulo, para me nomear para esse cargo.
Obtido o consentimento da Nunciatura, e a licença do Padre Provincial – Frei Asffonso de Condino, mandou que se passasse a seguinte Provisão: “D. Lúcio Antunes de Souza, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Botucatu. Aos que a presente provisão virem, saudação e benção do senhor. Fazemos saber que, tendo em consideração a aptidão e mais partes que concorrem na pessoa do Revmo. Frei Modesto de Rezende, Capuchinho, havemos por bem nomear, como pella presente Nossa Provisão o Nomeamos, enquanto não mandarmos o contrário, Secretário Geral do Bispado, o qual emprego servirá bem e fielmente, como convém ao serviço de Deus, e ao Nosso, com zelo, cuidado e inteireza, como de sua pessoa esperamos. E, no exercício do dito emprego, gozará de todas as honras, graças, privilégios e isenções que, por direito lhe competirem, e prestará em Nossas Mãos, antes de entrar em exercício deste cargo, o juramento de estilo. Esta se cumprirá sendo registrada em Nossa Câmara, e mais partes onde pertencer. Dada e passada em Nossa Câmara Episcopal de Botucatu, sob o Nosso sinal e selo de Nossas Armas, aos 10 de setembro de 1912. E eu, Raymundo Marcolino da Luz Cintra, secretário “ad hoc” a escrevi e subscrevo. (as.) Lúcio, Bispo de Botucatu”.
Interinamente, governador do Bispado
Se não me falha a memória, foi em Maio de 1913 que D. Lúcio partiu para Roma, pela primeira vez, em visita ad limina. Deixou entregue a Diocese, como manda o Canônico, a três Governadores: Mons. Paschoal Ferrari (Vigário Geral), Frei Modesto (Secretário Geral) e Mons. Manoel Barradas.
Não tinha ainda D. Lúcio deixado as águas do Brasil, quando Mons. Ferrari, no momento de embarcar, mandou-me da Estação um bilhete dizendo que precisava ausentar-se por tempo indeterminado (retirou-se para Faxina) e que, por isso, me passava as rédeas do governo Diocesano.
Pus-me em entendimento com o Snr. Arcebispo e também com a Nunciatura. Passei provisoriamente a Mons. Barradas o cargo de Secretário Geral e assumi o governo efetivo.
Deram-se fatos de grava importância nesse tempo mas, graças a Deus, tudo correu bem. Muito me valeram, nessa ocasião, a orientação segura que me foi ministrada pelo Snr. Núncio Apostólico e os paternais conselhos do Sr. Arcebispo D. Duarte Leopoldo e Silva, nas dificuldades ocorridas nesse período do meu governo.
Com o regresso do Snr. Bispo voltei a exercer o meu ofício de Secretário Geral.
Neste posto permaneci até o dia em que recebi ordem do meu Superior para seguir para a barrancas do Rio Paraná como Diretor da Catequese dos índios Chavantes do Matto Grosso.
- VII –
07 jan 1959
Mas, a velha Igreja em que oficiamos parecia não suportar mais reformas, tão estragada que estava. Não havia quem não visse o perigo de desabar pelo apodrecimento da madeira sobre a qual se apoiavam, como alicerce, as paredes laterais e da frente.
Apesar disso ninguém se conformava com o desaparecimento daquela igreja. “Derrubar uma igreja!?! Ainda mais de S. Benedito!?! Onde se viu isto!?! Se tiver que cair, que caia, e então se fará outra!!! Mas, derrubá-la, isso nunca!!!” Era o que se ouvia na boca do povo.
Talvez se explique com isto a razão do retraimento dos moradores de Botucatu em se abster de dar-me esmolas para a nova igreja.
Consultei os meus frades, e todos concordaram comigo, contanto que começasse logo a outra, e não a derrubasse enquanto a nova não estivesse em condições de ser aberta ao público.
Fechei os ouvidos às críticas e murmurações e saí a pedir esmolas. Pouca!!!... quase nada!... trezentos mil réis apenas! Fui bater às portas do Colégio. Recebi mais quinhentos mil réis.
Era pouco. Com isso não se faria nem o alicerce para uma capela! Seria o caso de desistir?
Alguém me contou que, pouco tempo antes, o Dr. José Cardoso de Almeida tinha estado em Lourdes e havia recebido uma grande graça de Nossa Senhora – a cura de um de seus filhos.
Lembrei-me de ir procurá-lo e propor-lhe a construção de uma igreja a Nossa Senhora de Lourdes. Fui a S. Paulo e me apresentei em sua casa, dizendo-lhe: “Doutor. É a primeira vez que tenho a felicidade de visitá-lo e o faço para pedir uma graça para a sua terra. Eu soube que o Senhor esteve há pouco em Lourdes e que alcançou a cura de um de seus filhos. É verdade, me disse ele. Naturalmente, o senhor ficou muito grato a ela, (falei). Perfeitamente. (voltou a me responder). (Então propus). Vamos fazer uma igreja a Nossa Senhora de Lourdes? Magnífica idéia! Mas, aonde? (falou o Dr. Cardoso, novamente). Em Botucatu. O Senhor sabe que a nossa igreja está muito velha, muito estragada! Já andamos fazendo alguns reparos, alguns consertos mas, como ela se encontra atualmente, até tenho medo de tocar nela, porque o assoalho já abaixou e as paredes também não oferecem segurança. Tenho receio que um dia de ventania ela possa desabar e matar algumas pessoas....Não, Deus nos Livre! Vamos fazer logo uma para Nossa Senhora de Lourdes. Já lhe dou dez contos de réis, para começar.Diga-me uma coisa (continuou o Dr. Cardoso) Onde é que o senhor vai construí-la? Já tem o terreno? (Voltei a responder à sua pergunta) Ainda não, Doutor. Mas, então?, (falou-me). (Voltei novamente a explicar o que pretendia): Se não arranjar terreno, estou pensando em fazê-la naquele espaço que fica entre a nossa casa e a casa de D. Sophia Pinheiro Machado...Alí não serve (falou o Dr.Cardoso) Onde se viu uma igreja apertada entre duas casas!?! Olha, ali perto há um quarteirão desocupado. Aquele terreno é do meu irmão Nenê. Fale com ele. Veja se consegue dele a doação do terreno.”
Voltei a Botucatu com os dez contos de réis e esperanças de obter o terreno. Fui direitinho à casa do Sr. Nenê. Falei, supliquei, perorei, lancei mão de todos os argumentos, mas ele se manteve irredutível. Afinal, propus-lhe a troca do quarteirão, pela nossa casa. Isso, ele aceitou.
Antes que ele se arrependesse comuniquei-me com o Padre Provincial.
Fui a S. Paulo, contei ao Dr. Cardoso a dificuldade que encontrei e que só consegui o local para a igreja dando em troca nossa casa. Admirou-se muito da tenacidade com que o seu irmão se negou a doar o terreno. Em todo o caso, achou que a permuta foi boa.
E a planta para a igreja? (falou o Dr. Cardoso). Ainda não a tenho, Doutor.
Mais ou menos, como o senhor queria que ela fosse?
Se dependesse de mim, eu gostava que fosse como a de Sta. Cecília ou a do Rosário, no largo Paysandu.
De quem é que depende, então. (voltou o Dr. Cardoso a falar)
Depende do recurso que não tenho...
Ora!!!...é o de menos.
Pelo telefone se informou quem foi que construiu aquela igreja e mandou chamar o engenheiro, o qual prometeu fazer a planta em poucos dias.
No convento acertei com o Padre Provincial o dia em que ele viajaria para Botucatu para receber a escritura da troca do terreno pela nossa casa. Voltei tranqüilo a Botucatu. Combinei tudo com o tabelião e com o Cel. Nenê Cardoso. No dia marcado, veio o Provincial.
- VIII –
10 janeiro 1959
Antes, porém, que ele chegasse fui à casa do Sr. Nenê e lhe falei: “Coronel, o Sr. É o chefe político desta cidade. Que explicação daria ao povo que comentasse que o sr. Fez a permuta do terreno e deixou os frades na rua?”
“Como? Eu não os deixei na rua!”
“Pois é! Nós não temos dinheiro para comprar outra e nem podemos alugar outra casa. Uma vez que, tomando posse daquele quarteirão a casa não é mais nossa; para onde vamos? Estamos na rua. Nesse caso, eu lhe peço que nos deixe continuar morando onde estamos, por mais três anos, sem pagar aluguel, para que tenhamos tempo de construir a igreja e nossa residência ao lado.”
Teve que concordar. Nesses termos, digo, com essa cláusula foi passada a escritura. E os nossos frades continuaram morando nela até 1917.
Agora, quem a iria construir?
Quinze dias depois o Dr. Cardoso de Almeida me mandou a planta da igreja, acompanhada de um cartão em que se liga: “É mais um presente que lhe faço”.
O Sr. Bispo aprovou. A Prefeitura também. Mostrei-a aos meus amigos, coloquei-a num quadro e a coloquei no tapa-vento, à entrada da igreja.
Um outro irmão do Dr. Cardoso de Almeida se ofereceu para dirigir a construção, gratuitamente. Era a contribuição que queria dar à Igreja de N. S. de Lourdes. Aceitei, com muito prazer.
Já estávamos em 1914.
A benção da primeira pedra, ou melhor, da pedra fundamental foi feita pelo Vigário geral Mons. Paschoal Ferrari com a assistência de D. Lúcio, do Dr. Cardoso de Almeida, do P. Provincial, das autoridades locais e de grande número de fiéis. Pregou o nosso companheiro frei Luiz Sant’Anna.
Continuei pedindo esmolas.
Aqueles dez contos recebidos do Dr. Cardoso e tudo o mais que ia recebendo, eu os ia entregando ao Sr. Custódio Cardoso, que os anotava no livro caixa e os despendia na compra de material e mão de obra do serviço da construção.
Nada posso dizer sobre a situação financeira do povo daquela época. Já era zona cafeeira, Botucatu, São Manoel e redondeza. Havia na cidade muito boa gente. Pessoas verdadeiramente abastadas eram poucas. O que é certo, é que não foi sem muita dificuldade que fui conseguindo as primeiras contribuições para o nosso Santuário. Não me faltava coragem. Até no Rio de Janeiro pedi esmolas para a construção da Igreja de N.S. Lourdes desta cidade de Botucatu.
E ela, a igreja, já estava saindo fora dos alicerces, já estava com mais de um metro acima do chão, quando chegou de S. Paulo ordem dos meus superiores para eu seguir como Diretor da Catequese dos índios matogrossenses, nas barrancas do Rio Paraná.
Empenhou-se D. Lúcio para que continuasse no mesmo posto de Secretário geral do Bispado, para que eu esperasse o término da minha provisão de Consultor Episcopal, mas não alcançou.
Na vida religiosa é assim: ordens dadas, ordens cumpridas.
E eu me fui. No relógio do tempo batia o dia 13 de Junho de 1914.
- IX –
14 jan 1959
Os companheiros continuaram lutando para obter donativos, mas recebiam muito pouco.
As obras da Igreja não podiam ser interrompidas. As despesas iam crescendo...
Foi então que o Dr. Cardoso de Almeida, num gesto que muito o enalteceu, demonstrando o seu amor à causa santa, o seu empenho para que a igreja se concluísse, custasse o que custasse, chamou a si a responsabilidade de entrar com o dinheiro que fosse necessário para pagar as despesas que os frades não pudessem pagar.
Assim mesmo demorou um pouco para ser inaugurada. Só o foi aos 08 de setembro de 1918. Com ela foi inaugurada também a gruta. Por muito tempo se conservou a nova Igreja pintada exteriormente, mas inteiramente caiada.
O Convento
Quando se deu a inauguração da nova Igreja, os frades já não moravam mais na casa que foi nossa. Alugaram uma casa na rua Pinheiro Machado, esquina da Rua Cardoso de Almeida, bem próximo do nosso quarteirão.
Transportamos para a nova Igreja as imagens, alfaias e todos os pertences do culto. O nosso companheiro Frei Aurélio de Smarano, assumindo o encargo de construir o Convento, começou por demolir a velha Igreja de S. Benedito.
Como bom entendedor de material de construção, verificou que as madeiras que não estavam carunchadas ou carcomidas, eram madeiras de lei. Soube aproveitá-las, mandando-as a uma serraria para que fossem desdobradas em duas, ou em quatro. Eram esteios, batentes, vigas, vigotas, etc, que se multiplicavam. Pouca coisa, nesse gênero, se teve que comprar. Telhas de pederneiras e tijolos de Conchas nos chegaram com descontos. O serviço de carpintaria ficou a seu cargo. O de servente de pedreiro (e também carpinteiro) a cargo do irmão leigo Frei Egidio.
Desta maneira, só faltava um bom pedreiro para o levantamento das paredes.
Contratou-se em S. Paulo um bom profissional que, além de muito hábil, para nós trabalhou muito mais em conta do que qualquer outro.
Quando o convento foi inaugurado, Frei Aurélio me contou que não chegou a quarenta contos, e tudo estava pago.
Bons tempos aqueles!
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Acaba aqui a bem circunstanciada relação do R.P. Frei Modesto. A ele, em 1914, sucedeu o R.P. Frei Daniel, mui conhecido e querido do povo. E, depois, o R.P. Frei Luiz de Santa Maria, até 1919.
A nova igreja surgiu mui vagarosamente por falta de meios. Ou o povo estava muito pobre, ou talvez, não estivesse muito acostumado a ajudar; o que não acontece agora em que o povo sustenta, com tanta generosidade, tantas obras de piedade e caridade. Foi então que o sr. José Cardoso de Almeida ofereceu 100 contos de réis e mandou fazer a linda Gruta, na entrada da rua.
A Igreja foi inaugurada no dia 08 de setembro de 1918, com grande afluências do fiéis. Os frades continuaram a trabalhar com muito zelo e introduziram grandes novidades: pregações populares, catecismos para as crianças, assiduidade no Confessionário, assistência espiritual aos enfermos e de um modo especial, assistência ao povo da roça e da Paróquias da Diocese, que eram vastíssimas e servidas por apenas um vigário, já velho ou pouco zeloso. O livro “Tombo” está repleto de idas e voltas às capelas e sítios, de Botucatu e das outras paróquias da Diocese; eram verdadeiras Missões populares.
A nova Igreja estava, pois, de pé, mas tudo estava ainda para fazer! O Convento, a nivelação do terreno, o desaterro do pátio das crianças, sacristia, salão para as Irmandades, os grandes muros de cinta e as calçadas que só puderam ser acabadas uns vinte anos mais tarde, sem falar dos Altares, confessionários, bancos e outros móveis, paramentos e alfaias para o culto divino...Tudo isso exigiu, durante longos anos, os esforços dos Superiores e a generosidades dos fiéis, como vamos ver rapidamente.
1919 – Superior R.P. Frei Jacinto de Prada. Inauguração do Convento. O Sr. Bispo Dom Lúcio eleva a Igreja à dignidade de “Santuário Episcopal” e fomenta piedosas romarias que, por muitos anos, afluíram numerosas, especialmente nas festas anuais de Lourdes.
Em 1920 faleceu o Sar. Amando de Barros, que deixou quatro (4) contos de réis, para ajudar o revestimento externo do Santuário, que ficou num total de 11:800$000 (onze contos e oitocentos mil réis).
Em 1922 faleceu Rvmo. Mons. Paschoal Ferrari, Vigário Geral, que deixou para o Santuário duas casas na Praça Cel. Moura. Foram vendidas em 1925, por quinze contos. A 19 de outubro desse mesmo ano o Exmo. Sr. Bispo Dom Lúcio recebeu, pública e solenemente, o santo hábito da Ordem Terceira de São Francisco, tomando o nome de irmão José, e com ele: Mons. Magaldi, Vigário Geral; o R.P. Euclides Carneiro e o R.P. Arlindo Vieira. Em 1922, ainda, foi feita a primeira caiação interna do Santuário, com despesa de 1 conto e 350 mil réis. Dona Lurdinha Rocha Cardoso ofereceu o Presépio, que custou 449 mil réis. A 21 de junho de 1924: benção da imagem do Sagrado Coração; valor da imagem: 400$000 (quatrocentos mil réis)
1925 – Superior o R. P. Aurélio de Smarano. A 28 de agosto foi fundada a Irmandade de N.S. de Lourdes, para homens e senhoras; a benção do novo Estandarte foi feita pelo Exmo. Sr. Bispo. Nesse tempo foi construída a Sacristia, os dois braços laterais da capela-mor, o salão de reuniões e o palco para teatros e festivais. Despesas da construção: 26:000$000.
1927 – Superior o R.P. Frei Vito de Martinhano, que enriqueceu o Santuário com muitos paramentos e alfaias sagradas. Mandou fazer o Arcaz da Sacristia e a bela porta da Igreja, de cedro com enfeites de bronze. Esta foi oferta da família Vilas Boas. No mês de outubro foi fundada a Fraternidade da Ven. Ordem Terceira de São Francisco; o Exmo. Sr. Bispo benzeu os novos sinos com o peso de 200, 150 e 105 quilos, no valor de 5:600$000. Benzeu também o Estandarte da Ordem Terceira. Em 1929 foi feito o Tapavento.
- X –
28 jan 1959
1931 – Superior o R. P. Frei Vital de Moema. Foi inaugurada a lápide, colocada no Adro da Igreja, em homenagem em honra ao grande benfeitor Dr. José Cardoso de Almeida. Benção da imagem de N.S. da Piedade, oferta do sr. Barão do Amaral e esculpida pelo grande artista Giácomo Scopoli.
1933 – Superior o R. P. Frei Bernardo de Vezano. O sr. Fernando Palú fez a doação do relógio da torre, no valor de Cr$ 5.000,00.
1936 – Superior o R. P. Frei Vital de Moema. Decoração da Capela Mor, pelo grande artista na pintura Pedro Gentili e seu irmão Ulderico – Cr$ 11.000,00.
1938 – Superior o R.P. Frei Modesto de Taubaté. Pintura externa do Santuário: Cr$ 4.000,00. Fundação da Congregação Mariana.
1939 – Superior o R.P. Frei Liberato de Gries. Fundação do Apostolado da Oração, dia 29 de Maio. Novos altares: Coração de Jesus e São José, no valor de Cr$ 16.000,00. Nova mesa da comunhão: Cr$ 6.000,00. Os dois lindos quadros de Santo Antonio e das Almas: Obra do Marcineiro Nino Françoso de Pinhal. Decoração de toda a Igreja e reforma do Nicho de N.S. no Altar Mor, pelo pintor Pedro Gentili.
1945 – Superior o R.P. Frei Bernardo de Vezano. A 23 de janeiro o Exmo. Sr. Dom Luiz fez a solene sagração do Santuário. A 27 de junho faleceu o R.P. Frei Bernardo, mui estimado e querido pelo povo. A 2 de fevereiro de 1944: fundação da UNIÃO DAS DAMAS DE CARIDADE para auxiliar os pobres.
1948 – Superior o R.P. Frei Celestino de Itu. Mandou fazer os dois artísticos confessionários, pelo marcineiro Nino Françoso\; Cr$ 10.000,00, oferta do falecido Pio Gargiuli. Nova e linda Via-Sacra, oferta da família do falecido Albertino Iasi: Cr$ 5.000,00.
1950 – A obra do “Avançamento” da Estrada de Ferro Sorocabana, por intermédio do Dr. Amando de Barros Sobrinho, advogado da Companhia, financiou a pintura externa do Santuário (Cr$ 36.000,00) e a balaustrada do muro em frente à Igreja: Cr$ 14.000,00.
1951 – Superior o R.P. Frei Policarpo de Spera. A irmandade de N.S. de Lourdes foi transformada em “Pia União das Filhas de Maria”, por decreto do Exmo. Sr. Bispo Dom Frei Henrique Trindade, a 1º de janeiro de 1951. Quase no fim do triênio, o R.P. Frei Policarpo mandou derrubar os pequenos salões das Irmandades e lançou os alicerces do grande prédio das “Damas de Caridade”.
1954 – Superior o R.P. Frei Atanásio de Piracicaba. Durante três anos empenhou todo seu zelo na grande obra, que deixou coberta. O atual Guardião, R.P. Frei Liberato de Gries (desde 1957) está para leva-la ao fim. Mas, no vasto e majestoso salão-teatro, já se representam belas festas populares e, na parte térrea, as piedosas “Damas de Caridade” continuam a ajudar numerosas famílias necessitadas e esperam melhorar e alargar cada vez mais, sua generosa Obra de Assistência Social. Foi retocada toda a pintura da igreja e pintado o pátio da entrada e, ultimamente, envernizado os bancos.
Esta série de artigos, foi dada ao público pela primeira vez há 50 anos atrás. Através do jornal A Folha de Botucatu, e por iniciativa do Frei Liberato de Gries – Guardião da Ordem em Botucatu naquele tempo – a série pretendeu, na época, comemorar os 50 anos da chegada da Ordem Franciscana em nossa cidade. Descrevendo com cores vivas a trajetória de acontecimentos vividos pelos capuchinhos em Botucatu, e com assuntos abordados com viva sinceridade pelo primeiro Superior, Frei Modesto Rezende, a série é um documento que não poderia continuar esquecido dos botucatuenses, agora que a sua chegada a Botucatu completa 100 anos. Este mergulho no passado reascende velhos temas, e coloca lente sobre uma cidade mal saída do século XIX, com todos os seus sucessos e problemas, desnudando em parte as circunstâncias em que foram edificadas as bases sobre as quais a Botucatu de hoje se assenta.
por João Carlos Figueiroa.
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- I -
29.11.1958
No próximo ano de 1959 os Frades Capuchinhos do Santuário de Lourdes celebrarão o 50º aniversário de sua vinda e de seus trabalhos em nossa cidade.
Por isso, vamos hoje começar a publicação de uns artigos, resumo histórico do fato, escrito pelo R.P. Frei Modesto Rezende, que teve papel tão importante nos primeiros anos, e na edificação do querido Santuário de Nossa Senhora de Lourdes. Frei Liberato de Gries
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Partiu de D. Lúcio o convite para nos estabelecermos em Botucatu.
Recém sagrado em Roma, ao passar por S. Paulo, com destino à sua Diocese, hospedou-se no palácio do seu Metropolita, com quem passou duas semanas. Dele recebeu todas as informações de que necessitava para organizar o seu plano de administração.
Dom Duarte Leopoldo e Silva [Foto acima] foi franco e positivo em lhe dizer que a zona era muito trabalhosa, e que o clero da região era muito reduzido. Havia paróquias enormes em extensão com um só sacerdote; outras populosas sem sequer um coadjutor. Nem todas as paróquias estavam providas. Grande parte do clero era constituída de sacerdotes idosos, alguns já muito cansados, quase impossibilitados de atender aos serviços paroquiais.
Religiosos não havia, a não ser dois ou três beneditinos, e três capuchinhos em Penápolis, pleno sertão da Noroeste.
Mostrando-lhe o mapa de S. Paulo, acrescentou: “Como V. Excia. vê o território é muito vasto. Os limites da Diocese são estes: aqui está o túnel da Piragibú, na linha Sorocabana. Fazendo um arco, a partir do oceano, na ponta de Peruhybe e terminando no Rio Tietê, passando por Piragibú, temos o limite com a Diocese de S. Paulo. Pelo Tietê segue até o Mato Grosso. Desce pelo Rio Paraná até a foz do Rio Paranapanema. D’ali, até o oceano, segue pela divisa dos dois Estados, para, a seguir subir pelo mar até a ponta de Peruhybe; Metade do nosso Estado.”
Bem pouco povoada a região fronteiriça com o Estado do Paraná; e, de Bauru em diante, mata virgem, habitada pelos índios.
Ultimamente, os capuchinhos têm-se empenhado em catequizar esses índios, e é por isso que lá se encontram esses em Penápolis, por não terem conseguido aproximar-se deles, em uma tentativa levada a efeito em Campos Novos do Paranapanema (estou narrando o que D. Lúcio me contou, quando viajei com ele em visita pastoral).
Alguns outros, como Frei Silvério, Frei Policarpo e Frei Vicente, têm pregado algumas missões em Iguape, em Avaré e em Santa Cruza do Rio Pardo, com grande proveito para as almas.
A essa altura, D. Lúcio perguntou ao arcebispo se seria possível conseguir uma casa desses Padres, em Botucatu, afim de que se encarregassem das missões populares nas diversas paróquias do bispado.
O Arcebispo transmitiu a pergunta ao seu confessor Frei Silvério, o qual respondeu afirmativamente. Assim sendo, D. Lucio se animou a ir se entender com o nosso Superior.
Levando um cartão de D. Duarte, foi ao convento da Imaculada Conceição para falar com o Superior Regular – Frei Camillo de Valda.
Disse-lhe D. Lúcio que desejava para a sua Diocese uma casa dos seus religiosos, e que, essa casa deveria ser em Botucatu. Com eles desejava contar para as missões populares em todas as freguesias do seu bispado, e que um deles o acompanhasse nas visitas pastorais. Duas finalidades, que não devemos deixar desaparecer da memória.
Frei Camillo concordou, prometendo-lhe mandar logo dois, e mais tarde, outros três.
A combinação feita, como veremos, foi incompleta; ou então frei Camillo se esqueceu de perguntar a Do. Lúcio: “Para quando os queria?... E quem os sustentaria?... Já agora, o leitor não se surpreenda com o que vai ler nestas linhas.
D. Lúcio só tomou posse da Diocese no dia 28 de Fevereiro, e já encontrou em Botucatu Frei Calixto de Taio e Frei Virgilio de Breguzzo. Houve, por certo, alguma precipitação. Ninguém os esperava. Nada estava preparado. Hospedaram-se na casa do Vigário. Era Vigário da Paróquia Mons. Pascoal Ferrari; coadjutor, Padre Caetano Jovino.
Não havia capelanias, nem de hospitais e nem de colégios; portanto faltava colocação para os capuchinhos recém-chegados. Nada planejado sobre missões; e não é de uma hora para outra que se prepara uma missão.
O Snr. Bispo acabava de chegar. Não tinha marcado ainda a sua primeira excursão em visita pastoral. Foi o primeiro problema que encontrou para resolver.
Vaga se encontrava a paróquia de Itararé, no extremo da linha Sorocabana, ramal do Sul. Foi nomeado vigário dessa paróquia o coadjutor de Botucatu, e o Padre Caetano Jovino partiu logo para lá. Com isto pensou D. Lúcio resolver o caso nomeando-os coadjutores de Botucatu, mas eles não aceitaram. Estranharam, porque não era este o fim pelo qual tinham vindo a esta cidade. Seria para eles um caso novo, que nunca tinham visto – um Frade ser coadjutor de um Padre secular. Quando uma paróquia é confiada à religiosos, tanto o vigário como o coadjutor são da mesma Congregação.
Como fazer? Acharam melhor pedir a vinda do Superior Regular a Botucatu, Veio e conferenciou com o Snr. Bispo. Terminada a palestra, ambos saíram e deram um passeio a pé pela cidade. Além da Matriz só existia uma Igreja muito velha e estragada – a Igreja de S. Benedito.
- II –
06 dez 1958
D. Lúcio a ofereceu aos padres. Tinham pois, onde exercer o seu apostolado, sem serem coadjutores. Aos poucos iriam recebendo intenções de missas e, talvez, convites de outros vigários para os auxiliarem em suas paróquias.
E casa para morarem? Perto da igreja havia uma desocupada. A proprietário – D. Izabel Aranha, pedia por ela doze contos. Frei Camilo a comprou para servir de residência aos frades. Para ela passaram os religiosos com suas malas.
Naquela casa faltava tudo. Não havia mobília de espécie alguma. Frei Camilo voltou a S. Paulo e providenciou o que lhe pareceu ser o mais necessário. Mandou um irmão leigo para os serviços domésticos e para sacristão, sr. Luciano Peterlini.
Para completar a primeira família religiosa dessa casa o Superior me transferiu de Piracicaba para esta cidade. Cheguei na tarde do dia 22 de abril de 1909 (a data confere com o meu Diário de Missas que vem sendo feito desde o dia de minha ordenação, a saber, desde o dia 16 de junho de 1907).
Logo que cheguei fui me apresentar ao sr. Bispo e dizer-lhe que era o designado pelo Superior Regular Frei Camillo para o acompanhar em visita Pastoral.
D. Lúcio estava se preparando para a primeira excursão. Na tarde do dia 24, que era sábado, partimos para S. Manuel. Iríamos até Bauru, Pederneiras e Piratininga, que eram as últimas cidades naquela zona. Levávamos conosco o nosso itinerário e programa, feitos para toda a primeira visita pastoral. Em resumo era o seguinte: ficaríamos apenas três ou quatro dias em cada paróquia. Havendo tempo visitaríamos também algum núcleo mais populoso. Só voltaríamos à sede no fim de três meses. Depois de um curto descanso de uma semana. recomeçaríamos o nosso trabalho em outra zona, por mais três meses. A seguir, outro descanso de uma semana na sede, e assim por diante até o fim.
Em um ano e dois meses, percorremos toda a Diocese. Ficamos conhecendo, in loco, tudo o que havia de bom, e tudo o que devia ter consertado. Viajamos umas trezentas léguas a cavalo. Viajamos de trole (automóveis não havia), viajamos a pé... Dormíamos poucas horas à noite, porque o serviço de confessionário nos prendia na igreja ou na capela até muito tarde. Afinal, regressamos: D. Lúcio para Botucatu e eu, doente, para o convento de S. Paulo.
Em Botucatu já não era mais Superior o Frei Calixto e sim o Frei Virgilio. Os companheiros eram outros. O movimento religioso em nossa igreja era regular. Mesmo assim ainda pairavam dúvidas sobre nossos companheiros sobre se haveríamos de continuar morando em Botucatu ou transferirmos nossa sede para outra cidade.
Para a consolidação de nossa permanência, faltava uma coisa: uma base para a nossa sustentação. Já se vê, era essa a maior preocupação do Superior.
Nós, pelo nosso voto de pobreza, não podemos ser proprietários de coisa alguma. Patrimônio, não temos. Como é que havemos de viver? Do nosso trabalho, é claro. Mas esse trabalho, em que consiste? Na pregação, na administração dos santos sacramentos, na instrução, na catequese, na celebração da santa missa, na visita aos doentes, etc.
Ora, bem. Nada podemos cobrar pela visita aos doentes. A administração do sacramento do batismo, do matrimônio, da crisma, não pertence aos religiosos, a não ser que sejam párocos ou bispos. Resta, portanto, viver da pregação, da celebração de missas, ou de capelanias em colégios, hospitais e asilos, ou então como professores em estabelecimento de ensino, ou qualquer outro encargo que seja digno de um sacerdote e compatível com o hábito e a vida de um religioso.
Em Botucatu não havia estas possibilidades; por conseguinte os frades só podiam contar com remuneração das pregações e com as espórtulas das missas.
Naquele tempo a tabela das missas era a seguinte: três mil réis pelas missas comuns e dez mil réis pelas que fossem celebradas em dia e hora marcada. Pregação, ao arbítrio do vigário ou dos festeiros. Entre o povo não havia o hábito de mandar celebrar missas, a não ser de sétimo dia, de mês ou de aniversário da morte de seus parentes. Uma ou outra pessoa aparecia para mandar celebrar alguma missa de promessa.
Das paróquias não chegavam convites para pregações. Como viver, então? Era essa a maior, talvez a única, preocupação do Superior. Como bem podem imaginar os leitores, era crítica a situação dos capuchinhos.
S. Francisco nos dizia que quando, com o nosso trabalho não ganhássemos o suficiente para a nossa sustentação saíssemos a bater de porta em porta pedindo esmolas pelo amor de Deus.
O povo de nada sabia; e teria estranhado se fizéssemos isso. Para evitar críticas e comentários, o Superior local preferiu escrever a S. Paulo pedindo ao Superior Maior que o auxiliasse a pagar as contas de cada mês.
Quando em visita pastoral chegamos a uma freguesia da fronteira do Paraná, e ali encontramos um velho vigário – o Padre Guerreiro, que não cobrava nada dos seus serviços paroquiais, mas que tinha a casa sortida de tudo e com abundância, porque o seu povo tudo lhe dava, sem que ele precisasse pedir... lembrei-me dos meus companheiros de Botucatu, que não sabiam como fazer para obterem o necessário á sua subsistência.
-III-
13 dez 1958
Penso que, com muito acerto teriam agido se tivessem explicado ao povo que a Ordem Capuchinha é uma ordem mendicante e que nós não ficaríamos ofendidos e nem humilhados se as pessoas mais favorecidas pela fortuna nos dessem algumas esmolas por amor de Deus.
Corações generosos havia de haver, que se teriam compadecido de nossa penúria. Sem dúvida, tiveram acanhamento de o fazer. Preferiram calar-se. Quem sabe se foi melhor assim?!
Deus tarda, mas não falta. Lá longe, no velho mundo, estava a casa matriz da nossa Província (atualmente é o convento da Imaculada Conceição, em S. Paulo). O Provincial – Frei Affonso de Condino - resolveu vir fazer uma visita aos seus religiosos, moradores no Estado de S. Paulo. Veio em muito boa hora para todos nós. Havia vários problemas a resolver. Um desses era o de Botucatu.
Fino diplomata, pela segunda vez Provincial de Trento, chegou a S. Paulo e veio a Botucatu. Visitou os seus frades. Ouviu-os um por um. Visitou e conferenciou com o Snr. Bispo e ambos chegaram a uma conclusão, a saber: que seria conveniente trocar o pessoal de nossa casa e colocar à frente um que tivesse mais jeito de lidar com o povo, e adotar outro programa.
O Snr. Bispo achava que esse, de acordo com o costume vigente na Ordem, se conservasse no seu posto, ao menos por triênio, etc. Garantia ele que tudo havia de melhorar.
Voltou a S. Paulo o Padre Provincial e foi ao meu quarto. Disse-me: “Tudo está harmonizado. Prepare-se para seguir como Superior para Botucatu. Serão seus companheiros, aliás seus súditos, Frei Gregório de Rumo, Frei Polycarpo de Levico e o postulante a irmão leigo Frei Manoel de S. Paulo. Este ficará a seu cuidado até o dia de ir para o Noviciado. Cuidará dos serviços domésticos. Como sacristão continuará o Luciano Partelini.”
Dois venerandos Padres, respeitabilíssimos pela piedade, ambos muito criteriosos, muito prudentes, sempre prontos para o trabalho, muito zelosos para o bem das almas. O candidato a irmão leigo era uma alma simples e boa, dócil, obediente, bem moldável a todos os sãos princípios da virtude e da perfeição religiosa, como bem provou a vida santa que levou, até a morte. Melhores companheiros eu não poderia desejar.
Arrumamos nossas malas e partimos. Pela segunda vez eu vinha morar nesta cidade.
Aos 27 de julho de 1911, chegamos em Botucatu. Na manhã seguinte fomos todos visitar D. Lúcio e pedir-lhe a santa benção.
O Snr. Bispo nos recebeu com muita alegria e satisfação. Alegrou-se por verificar que o nosso Padre Provincial tomou em consideração o que com ele havia conversado, nomeando como Superior o seu velho amigo, e substituindo os que não se ajustavam bem às circunstâncias locais, por venerandos padres que demonstravam tanta virtude e grande experiência no amanho das almas.
Felicitou-nos e prometeu ajudar-nos em tudo aquilo que fosse possível. Voltamos para a nossa casa. No dia seguinte D. Lúcio nos deu o prazer de sua visita. Por largo tempo mantivemos com ele uma familiar palestra.
Como já conhecíamos, ele e eu, toda a Diocese, entramos a fundo nos assuntos interessantes e até mesmo delicados, e analisamos vários pontos sobre o status quo do Bispado.
Não estranhei. A nossa convivência de quase um ano e meio em visita pastoral nos tinha oferecido tantas oportunidades para estudarmos, juntos, os problemas dessa grande população derramada por essa vastidão enorme que constituía o Bispado de Botucatu.
Dias depois, chamou-me ao palácio. Queria comunicar-me que havia deliberado de acordo com a determinação do Concílio Plenário Latino-Americano, nomear os quatro Consultores Episcopais, e que eu seria um deles.
Chamou o Padre Manoel Pinto dos Santos, e mandou passar-me a seguinte provisão:
“D. Lúcio Antunes de Souza, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica Bispo de Botucatu, aos que a presente Provisão virem, saudação e benção do Senhor, fazemos saber que, cumprindo-nos, de conformidade com o Concilio Plenário da América Latina, eleger quatro Consultores Episcopais, de cujos conselhos se utilize o Bispo Diocesano, nas resoluções de maior importância relativas à administração da Diocese, segundo o nº 245 do citado Concílio e, concorrendo no Revdo. Frei Modesto de Rezende, Superior dos Capuchinhos residentes nesta cidade de Botucatu, as qualidades e partes que para tal se requerem, - Havemos por bem d’o eleger e prover no cargo de Consultor Episcopal deste Bispado, como pela presente o elegemos e Provemos, pelo tempo de três anos. Tomará posse deste cargo depois de ter em Nossas Mãos prestado o juramento de guardar o segredo do ofício, e bem desempenhar o seu dever. Dada e passada em nossa Câmara Episcopal de Botucatu, sob Nosso Sinal e Selo das Nossas Armas aos 3 de agosto de 1911. E eu, Padre Manoel Pinto dos Santos, Secretário Interino do Bispado a escrevi e subscrevo. (ass) Lucio, Bispo de Botucatu”.
- IV –
17 dez 1958
Fiquei confuso! Acabrunhado mesmo, sob o peso de tamanha responsabilidade.
Voltei do Palácio triste e perturbado!...porque não dizer... Pense o leitor, e reflita bem nos termos desta Provisão e logo compreenderá a razão desta tristeza.
Moço ainda, vinte e sete anos apenas... obrigado a dar conselhos a um Bispo!... e o mede de não acertar?...e o receio das consequências?... tudo me apavorava!
Lá em baixo, superior dos meus mestres; cá em cima, Consultor do snr Bispo...
Era eu que precisava de conselhos e não eles.
Senti-me sozinho num mundo estranho. Pequenino demais para tão grande peso. (nota: foi nessa ocasião que precisei registrar o meu nome acompanhado do sobrenome da Família – Frei Modesto de Rezende. E o fiz no Tabelião Veiga, rua de São Bento, em S. Paulo).
A Antiga Igreja de S. Benedito
Era muito velha. Consertada aqui, remendada ali, escorada acolá, estava servindo até que se fizesse uma nova.
Devia ser muito antiga. Fora construída de pau a pique. Provavelmente, quando a construíram, a cidade chegava até ali. Era o que se podia deduzir da posição em que ficara colocada, fora do alinhamento de todas as ruas que a circundavam.
Verdade é que havia um largo ajardinado no seu flanco direito; mas isso mais a prejudicava porque, devido ao acentuado desnível da praça, todas as águas pluviais vinham de encontro a ela, minavam-lhe os alicerces, concorrendo para o apodrecimento das toras de madeira, sobre as quais se tinham levantado as paredes.
Todos viram que a velha igreja não podia resistir por muito tempo.
Mais do que qualquer outro, eu compreendia a necessidade de se construir uma nova e, ao lado, o nosso convento.
Faltando, porém, tudo o que se requer para a construção de uma igreja, a começar pelo terreno, deixei para mais tarde esse empreendimento.
No momento, a tarefa que se me impunha era outra – a Reorganização do Catecismo.
O Catecismo
Entre o termo das nossas excursões com o Snr. Bispo, na primeira visita pastoral e a minha volta para Botucatu mediaram uns seis meses. Nesse tempo andei pregando em diversos lugares do nosso Estado de S. Paulo e Minas. Vim encantado com o método que eu vi, adotado na Catedral de Pouso Alegre. Simplesmente maravilhoso!
Como era esta a primeira ocasião que eu tinha para formar um Centro do Catecismo, tratei de não perder tempo. Ia fundar o meu Centro, segundo o de Pouso Alegre.
As Catequistas que já encontrei eram muito boas, piedosas, ativas e muito práticas na arte de lidar com crianças. Tinha certeza de que, com elas podia contar. Convidei-as para uma reunião e lhes expus o que pretendia fazer. Todas concordaram. (Ainda vivem algumas dessas ótimas auxiliares).
Imediatamente providenciei livros de Tombo, de Atas; Cadernetas para Catequistas, livros de Chamada, de Matrícula; cartões de notas; livro caixa, etc. Um Centro deve ter tudo isso.
Tudo isso preparado demos início à nossa organização.
O plano era este: todas as crianças seriam distribuídas em classes. 1ª classe - Sinal da Cruz; 2ª classe – Padre Nosso e Ave Maria; 3ª classe – Creio em Deus Padre; 4ª classe – Mandamentos; 5ª classe – Ato de Contrição e Eu Pecador; 6ª classe – Sacramentos; 7ª classe – Preparação para a primeira comunhão.
Cada classe teria uma Catequista e, sendo preciso, uma ou duas auxiliares.
Para padroeiro do Centro, recebemos de D. Maria Vilaça, residente no Rio de Janeiro, um lindo busto de S. Tercisio.
- V –
24 dez 1958
As aulas durariam de meia hora a quarenta minutos, ficando vinte minutos para a explicação geral eu o Diretor faria a todos.
Frei Modesto se incumbia dos hinos de abertura e encerramento das aulas. No início das aulas: - Cantos, Padre Nosso, Ave Maria e Credo. A seguir – Chamada feita pelo Diretor. A Presidente daria cartão de freqüência a cada um dos alunos presentes.
A um sinal do Diretor – Começo das aulas. A outro sinal do Diretor - as Catequistas suspendem as suas explicações. Explicação geral do Diretor. Canto pelas crianças do Hino de encerramento. Nota importante: As crianças não poderiam sair correndo e nem fazendo barulho ou algazarra, mas duas a duas, fazendo antes genuflexão para o Santíssimo.
Cada Catequista deveria dar aos seus alunos tantos cartões de Boa Nota quantas fossem as lições sabidas.
Ao Diretor pertencia dar os Cartões de Diligências pelos novos alunos que lhe tivessem sido apresentados pelos alunos.
O dia de Natal seria o dia da distribuição dos prêmios. Todas as crianças seriam premiadas, ainda que tivessem assistido só a uma aula de catecismo. Em tal caso só ganharia uma medalha, um santinho, um lápis ou coisa equivalente.
Os prêmios seriam comprados pelo Diretor, em S. Paulo, nas fábricas ou em casas comerciais em liquidação.
Duas semanas antes do Natal, cada aluno devia trazer os seus cartões dentro de envelope fechado, com o seu nome escrito na face externa do envelope e entrega-lo ao Diretor.
As catequistas entregariam ao mesmo as suas cadernetas para que ele pudesse conferir os cartões recebidos, antes de designar os prêmios competiam a cada aluno.
Os cartões que fossem encontrados a mais, seriam postos à margem, sem direito a prêmios.
Escusado é dizer que, no fim do ano, todos verificaram o bom resultado obtido por esse método. Já se notava empenho da parte das crianças em não faltar às aulas de catecismo.
Era o que queríamos.
Para o ano de 1912 já pudemos marcar duas festas de primeira comunhão, tal era a frequência e o número de alunos que tínhamos em nosso centro.
Faltava uma coisa: - o catecismo de Perseverança.
Liga de S. Francisco
O Catecismo de perseverança tinha que ser uma secção à parte. Era para ser formado de alunos que já tivessem feito a primeira comunhão, os quais passariam a estudar o segundo catecismo.
Acontecia, porém, que as crianças nem bem tinham comungado pela primeira vez, não mais apareciam. Acredito até que, alguns, nem se importavam de ouvir missa aos Domingos e Dias Santos. O pior é que os próprios pais eram do mesmo feitio. Quantas vezes, do púlpito e em particular, tentamos corrigir esse defeito do povo, e não conseguimos!
Conversando com D. Lúcio sobre esse mau costume que encontramos por toda a parte, e notadamente em Botucatu, disse-me ele: “Por quê não experimenta fundar uma irmandade para crianças, na qual só se aceitam crianças que tenham feito a primeira comunhão?”. É verdade...vou fazer isso! “Tratando-se de crianças, continuou ele, não se pode pretender muito. Os estudos devem ser facílimos e ao mesmo tempo apresentar algo que os atraia. Faça-os e traga-os para os aprovarmos”.
Comuniquei a idéia às Catequistas e nos pusemos a estudar os estatutos. Os distintivos haviam de constituir a parte atraente da nova irmandade.
Tudo feito, levei ao Snr. Bispo os estatutos, juntamente com a oração de S. Tarcizio. Ele os leu atentamente, aprovou-os e ainda anexou 50 dias de indulgência à oração do padroeiro do Catecismo e da Liga.
Mandei-os imprimir enquanto as Catequistas preparavam os distintivos. Estes consistiam em: Terno branco e uma faixa larga, verde, a tiracolo. As extremidades dessa faixa terminariam em franjas de canutilho dourado. Na parte da frente, também em letras douradas, o dístico: LIGA DE S. TARCISIO.
Os pais se incumbiram de preparar o terno branco para os seus filhos, e o nosso Centro deu-lhes, de graça, as faixas, medalhas de S. Tarcisio, exemplares dos estatutos e livrinhos de cânticos.
As Catequistas, espontaneamente, resolveram usar também como uniforme, saia preta, blusa branca e, sobre o coração, um laço de fita verde com a medalha de S. Tarcisio.
Em Piracicaba foi pintada a tela para o Estandarte por D. Maria Thereza de Andrade. Ela mesma se incumbiu de confeccionar o Estandarte, gratuitamente.
Para estrear, ou digamos melhor, para fazermos solenemente a instalação da irmandade das crianças, fizemos pela primeira vez a Festa de S. Tarcisio, com o aparato que nos foi possível. Foi um sucesso!... Muita gente! E muito entusiasmo! Contentamento geral!.
Reapareceram as crianças que, em épocas diversas, tinham feito a sua primeira comunhão. Todas queriam fazer parte da “Liga de S. Tarcisio”, prometendo cumprir os estatutos e, consequentemente, frequentar as aulas do Catecismo de Perseverança.
Tão rapidamente cresceu e aumentou a matrícula desses alunos, que foi preciso marcar hora em período da manhã, para as aulas serem frequentadas por elas.
- VI –
31 dez 1958
Ficou sendo, logo em seguida à missa das 9 horas, o Catecismo da Perseverança, em nossa igreja. Continuou sendo feita às duas horas da tarde a outra parte do catecismo geral.
A Liga passou a ter a sua vida própria. Era uma vida eucarística. Havia comunhão geral dos alunos do Catecismo de Perseverança no quarto domingo de cada mês.
Era para se ver a animação que reinava em todos. Mês por mês, crescia o número de comungantes. Chegou a ter duzentas e quarenta e quatro crianças comungando em certo domingo do mês, sem que fosse um dia de festa especializada.
Ia, a nossa Liga, de vento em popa! Que o digam as poucas catequistas daquele tempo que ainda vivem, umas em S. Paulo, outra no Rio e outras alhures.
Colaborando no governo Diocesano
Corria o ano de 1912. Circunstâncias imprevistas colocaram o Snr. Bispo em dura provação. De uma hora para outra viu-se privado do Chanceler do Bispado, Cônego Victorio Peyla. Os acontecimentos foram imediatamente comunicados por ele ao Sr. Arcebispo e à Nunciatura Apostólica. Precisou, no momento, nomear um outro de sua inteira confiança. Pediu ao Sr. Núncio que o autorizasse a nomear um capuchinho – o caso exigia, e ao nosso Provincial, que ainda se encontrava em S. Paulo, para me nomear para esse cargo.
Obtido o consentimento da Nunciatura, e a licença do Padre Provincial – Frei Asffonso de Condino, mandou que se passasse a seguinte Provisão: “D. Lúcio Antunes de Souza, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo de Botucatu. Aos que a presente provisão virem, saudação e benção do senhor. Fazemos saber que, tendo em consideração a aptidão e mais partes que concorrem na pessoa do Revmo. Frei Modesto de Rezende, Capuchinho, havemos por bem nomear, como pella presente Nossa Provisão o Nomeamos, enquanto não mandarmos o contrário, Secretário Geral do Bispado, o qual emprego servirá bem e fielmente, como convém ao serviço de Deus, e ao Nosso, com zelo, cuidado e inteireza, como de sua pessoa esperamos. E, no exercício do dito emprego, gozará de todas as honras, graças, privilégios e isenções que, por direito lhe competirem, e prestará em Nossas Mãos, antes de entrar em exercício deste cargo, o juramento de estilo. Esta se cumprirá sendo registrada em Nossa Câmara, e mais partes onde pertencer. Dada e passada em Nossa Câmara Episcopal de Botucatu, sob o Nosso sinal e selo de Nossas Armas, aos 10 de setembro de 1912. E eu, Raymundo Marcolino da Luz Cintra, secretário “ad hoc” a escrevi e subscrevo. (as.) Lúcio, Bispo de Botucatu”.
Interinamente, governador do Bispado
Se não me falha a memória, foi em Maio de 1913 que D. Lúcio partiu para Roma, pela primeira vez, em visita ad limina. Deixou entregue a Diocese, como manda o Canônico, a três Governadores: Mons. Paschoal Ferrari (Vigário Geral), Frei Modesto (Secretário Geral) e Mons. Manoel Barradas.
Não tinha ainda D. Lúcio deixado as águas do Brasil, quando Mons. Ferrari, no momento de embarcar, mandou-me da Estação um bilhete dizendo que precisava ausentar-se por tempo indeterminado (retirou-se para Faxina) e que, por isso, me passava as rédeas do governo Diocesano.
Pus-me em entendimento com o Snr. Arcebispo e também com a Nunciatura. Passei provisoriamente a Mons. Barradas o cargo de Secretário Geral e assumi o governo efetivo.
Deram-se fatos de grava importância nesse tempo mas, graças a Deus, tudo correu bem. Muito me valeram, nessa ocasião, a orientação segura que me foi ministrada pelo Snr. Núncio Apostólico e os paternais conselhos do Sr. Arcebispo D. Duarte Leopoldo e Silva, nas dificuldades ocorridas nesse período do meu governo.
Com o regresso do Snr. Bispo voltei a exercer o meu ofício de Secretário Geral.
Neste posto permaneci até o dia em que recebi ordem do meu Superior para seguir para a barrancas do Rio Paraná como Diretor da Catequese dos índios Chavantes do Matto Grosso.
- VII –
07 jan 1959
Mas, a velha Igreja em que oficiamos parecia não suportar mais reformas, tão estragada que estava. Não havia quem não visse o perigo de desabar pelo apodrecimento da madeira sobre a qual se apoiavam, como alicerce, as paredes laterais e da frente.
Apesar disso ninguém se conformava com o desaparecimento daquela igreja. “Derrubar uma igreja!?! Ainda mais de S. Benedito!?! Onde se viu isto!?! Se tiver que cair, que caia, e então se fará outra!!! Mas, derrubá-la, isso nunca!!!” Era o que se ouvia na boca do povo.
Talvez se explique com isto a razão do retraimento dos moradores de Botucatu em se abster de dar-me esmolas para a nova igreja.
Consultei os meus frades, e todos concordaram comigo, contanto que começasse logo a outra, e não a derrubasse enquanto a nova não estivesse em condições de ser aberta ao público.
Fechei os ouvidos às críticas e murmurações e saí a pedir esmolas. Pouca!!!... quase nada!... trezentos mil réis apenas! Fui bater às portas do Colégio. Recebi mais quinhentos mil réis.
Era pouco. Com isso não se faria nem o alicerce para uma capela! Seria o caso de desistir?
Alguém me contou que, pouco tempo antes, o Dr. José Cardoso de Almeida tinha estado em Lourdes e havia recebido uma grande graça de Nossa Senhora – a cura de um de seus filhos.
Lembrei-me de ir procurá-lo e propor-lhe a construção de uma igreja a Nossa Senhora de Lourdes. Fui a S. Paulo e me apresentei em sua casa, dizendo-lhe: “Doutor. É a primeira vez que tenho a felicidade de visitá-lo e o faço para pedir uma graça para a sua terra. Eu soube que o Senhor esteve há pouco em Lourdes e que alcançou a cura de um de seus filhos. É verdade, me disse ele. Naturalmente, o senhor ficou muito grato a ela, (falei). Perfeitamente. (voltou a me responder). (Então propus). Vamos fazer uma igreja a Nossa Senhora de Lourdes? Magnífica idéia! Mas, aonde? (falou o Dr. Cardoso, novamente). Em Botucatu. O Senhor sabe que a nossa igreja está muito velha, muito estragada! Já andamos fazendo alguns reparos, alguns consertos mas, como ela se encontra atualmente, até tenho medo de tocar nela, porque o assoalho já abaixou e as paredes também não oferecem segurança. Tenho receio que um dia de ventania ela possa desabar e matar algumas pessoas....Não, Deus nos Livre! Vamos fazer logo uma para Nossa Senhora de Lourdes. Já lhe dou dez contos de réis, para começar.Diga-me uma coisa (continuou o Dr. Cardoso) Onde é que o senhor vai construí-la? Já tem o terreno? (Voltei a responder à sua pergunta) Ainda não, Doutor. Mas, então?, (falou-me). (Voltei novamente a explicar o que pretendia): Se não arranjar terreno, estou pensando em fazê-la naquele espaço que fica entre a nossa casa e a casa de D. Sophia Pinheiro Machado...Alí não serve (falou o Dr.Cardoso) Onde se viu uma igreja apertada entre duas casas!?! Olha, ali perto há um quarteirão desocupado. Aquele terreno é do meu irmão Nenê. Fale com ele. Veja se consegue dele a doação do terreno.”
Voltei a Botucatu com os dez contos de réis e esperanças de obter o terreno. Fui direitinho à casa do Sr. Nenê. Falei, supliquei, perorei, lancei mão de todos os argumentos, mas ele se manteve irredutível. Afinal, propus-lhe a troca do quarteirão, pela nossa casa. Isso, ele aceitou.
Antes que ele se arrependesse comuniquei-me com o Padre Provincial.
Fui a S. Paulo, contei ao Dr. Cardoso a dificuldade que encontrei e que só consegui o local para a igreja dando em troca nossa casa. Admirou-se muito da tenacidade com que o seu irmão se negou a doar o terreno. Em todo o caso, achou que a permuta foi boa.
E a planta para a igreja? (falou o Dr. Cardoso). Ainda não a tenho, Doutor.
Mais ou menos, como o senhor queria que ela fosse?
Se dependesse de mim, eu gostava que fosse como a de Sta. Cecília ou a do Rosário, no largo Paysandu.
De quem é que depende, então. (voltou o Dr. Cardoso a falar)
Depende do recurso que não tenho...
Ora!!!...é o de menos.
Pelo telefone se informou quem foi que construiu aquela igreja e mandou chamar o engenheiro, o qual prometeu fazer a planta em poucos dias.
No convento acertei com o Padre Provincial o dia em que ele viajaria para Botucatu para receber a escritura da troca do terreno pela nossa casa. Voltei tranqüilo a Botucatu. Combinei tudo com o tabelião e com o Cel. Nenê Cardoso. No dia marcado, veio o Provincial.
- VIII –
10 janeiro 1959
Antes, porém, que ele chegasse fui à casa do Sr. Nenê e lhe falei: “Coronel, o Sr. É o chefe político desta cidade. Que explicação daria ao povo que comentasse que o sr. Fez a permuta do terreno e deixou os frades na rua?”
“Como? Eu não os deixei na rua!”
“Pois é! Nós não temos dinheiro para comprar outra e nem podemos alugar outra casa. Uma vez que, tomando posse daquele quarteirão a casa não é mais nossa; para onde vamos? Estamos na rua. Nesse caso, eu lhe peço que nos deixe continuar morando onde estamos, por mais três anos, sem pagar aluguel, para que tenhamos tempo de construir a igreja e nossa residência ao lado.”
Teve que concordar. Nesses termos, digo, com essa cláusula foi passada a escritura. E os nossos frades continuaram morando nela até 1917.
Agora, quem a iria construir?
Quinze dias depois o Dr. Cardoso de Almeida me mandou a planta da igreja, acompanhada de um cartão em que se liga: “É mais um presente que lhe faço”.
O Sr. Bispo aprovou. A Prefeitura também. Mostrei-a aos meus amigos, coloquei-a num quadro e a coloquei no tapa-vento, à entrada da igreja.
Um outro irmão do Dr. Cardoso de Almeida se ofereceu para dirigir a construção, gratuitamente. Era a contribuição que queria dar à Igreja de N. S. de Lourdes. Aceitei, com muito prazer.
Já estávamos em 1914.
A benção da primeira pedra, ou melhor, da pedra fundamental foi feita pelo Vigário geral Mons. Paschoal Ferrari com a assistência de D. Lúcio, do Dr. Cardoso de Almeida, do P. Provincial, das autoridades locais e de grande número de fiéis. Pregou o nosso companheiro frei Luiz Sant’Anna.
Continuei pedindo esmolas.
Aqueles dez contos recebidos do Dr. Cardoso e tudo o mais que ia recebendo, eu os ia entregando ao Sr. Custódio Cardoso, que os anotava no livro caixa e os despendia na compra de material e mão de obra do serviço da construção.
Nada posso dizer sobre a situação financeira do povo daquela época. Já era zona cafeeira, Botucatu, São Manoel e redondeza. Havia na cidade muito boa gente. Pessoas verdadeiramente abastadas eram poucas. O que é certo, é que não foi sem muita dificuldade que fui conseguindo as primeiras contribuições para o nosso Santuário. Não me faltava coragem. Até no Rio de Janeiro pedi esmolas para a construção da Igreja de N.S. Lourdes desta cidade de Botucatu.
E ela, a igreja, já estava saindo fora dos alicerces, já estava com mais de um metro acima do chão, quando chegou de S. Paulo ordem dos meus superiores para eu seguir como Diretor da Catequese dos índios matogrossenses, nas barrancas do Rio Paraná.
Empenhou-se D. Lúcio para que continuasse no mesmo posto de Secretário geral do Bispado, para que eu esperasse o término da minha provisão de Consultor Episcopal, mas não alcançou.
Na vida religiosa é assim: ordens dadas, ordens cumpridas.
E eu me fui. No relógio do tempo batia o dia 13 de Junho de 1914.
- IX –
14 jan 1959
Os companheiros continuaram lutando para obter donativos, mas recebiam muito pouco.
As obras da Igreja não podiam ser interrompidas. As despesas iam crescendo...
Foi então que o Dr. Cardoso de Almeida, num gesto que muito o enalteceu, demonstrando o seu amor à causa santa, o seu empenho para que a igreja se concluísse, custasse o que custasse, chamou a si a responsabilidade de entrar com o dinheiro que fosse necessário para pagar as despesas que os frades não pudessem pagar.
Assim mesmo demorou um pouco para ser inaugurada. Só o foi aos 08 de setembro de 1918. Com ela foi inaugurada também a gruta. Por muito tempo se conservou a nova Igreja pintada exteriormente, mas inteiramente caiada.
O Convento
Quando se deu a inauguração da nova Igreja, os frades já não moravam mais na casa que foi nossa. Alugaram uma casa na rua Pinheiro Machado, esquina da Rua Cardoso de Almeida, bem próximo do nosso quarteirão.
Transportamos para a nova Igreja as imagens, alfaias e todos os pertences do culto. O nosso companheiro Frei Aurélio de Smarano, assumindo o encargo de construir o Convento, começou por demolir a velha Igreja de S. Benedito.
Como bom entendedor de material de construção, verificou que as madeiras que não estavam carunchadas ou carcomidas, eram madeiras de lei. Soube aproveitá-las, mandando-as a uma serraria para que fossem desdobradas em duas, ou em quatro. Eram esteios, batentes, vigas, vigotas, etc, que se multiplicavam. Pouca coisa, nesse gênero, se teve que comprar. Telhas de pederneiras e tijolos de Conchas nos chegaram com descontos. O serviço de carpintaria ficou a seu cargo. O de servente de pedreiro (e também carpinteiro) a cargo do irmão leigo Frei Egidio.
Desta maneira, só faltava um bom pedreiro para o levantamento das paredes.
Contratou-se em S. Paulo um bom profissional que, além de muito hábil, para nós trabalhou muito mais em conta do que qualquer outro.
Quando o convento foi inaugurado, Frei Aurélio me contou que não chegou a quarenta contos, e tudo estava pago.
Bons tempos aqueles!
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Acaba aqui a bem circunstanciada relação do R.P. Frei Modesto. A ele, em 1914, sucedeu o R.P. Frei Daniel, mui conhecido e querido do povo. E, depois, o R.P. Frei Luiz de Santa Maria, até 1919.
A nova igreja surgiu mui vagarosamente por falta de meios. Ou o povo estava muito pobre, ou talvez, não estivesse muito acostumado a ajudar; o que não acontece agora em que o povo sustenta, com tanta generosidade, tantas obras de piedade e caridade. Foi então que o sr. José Cardoso de Almeida ofereceu 100 contos de réis e mandou fazer a linda Gruta, na entrada da rua.
A Igreja foi inaugurada no dia 08 de setembro de 1918, com grande afluências do fiéis. Os frades continuaram a trabalhar com muito zelo e introduziram grandes novidades: pregações populares, catecismos para as crianças, assiduidade no Confessionário, assistência espiritual aos enfermos e de um modo especial, assistência ao povo da roça e da Paróquias da Diocese, que eram vastíssimas e servidas por apenas um vigário, já velho ou pouco zeloso. O livro “Tombo” está repleto de idas e voltas às capelas e sítios, de Botucatu e das outras paróquias da Diocese; eram verdadeiras Missões populares.
A nova Igreja estava, pois, de pé, mas tudo estava ainda para fazer! O Convento, a nivelação do terreno, o desaterro do pátio das crianças, sacristia, salão para as Irmandades, os grandes muros de cinta e as calçadas que só puderam ser acabadas uns vinte anos mais tarde, sem falar dos Altares, confessionários, bancos e outros móveis, paramentos e alfaias para o culto divino...Tudo isso exigiu, durante longos anos, os esforços dos Superiores e a generosidades dos fiéis, como vamos ver rapidamente.
1919 – Superior R.P. Frei Jacinto de Prada. Inauguração do Convento. O Sr. Bispo Dom Lúcio eleva a Igreja à dignidade de “Santuário Episcopal” e fomenta piedosas romarias que, por muitos anos, afluíram numerosas, especialmente nas festas anuais de Lourdes.
Em 1920 faleceu o Sar. Amando de Barros, que deixou quatro (4) contos de réis, para ajudar o revestimento externo do Santuário, que ficou num total de 11:800$000 (onze contos e oitocentos mil réis).
Em 1922 faleceu Rvmo. Mons. Paschoal Ferrari, Vigário Geral, que deixou para o Santuário duas casas na Praça Cel. Moura. Foram vendidas em 1925, por quinze contos. A 19 de outubro desse mesmo ano o Exmo. Sr. Bispo Dom Lúcio recebeu, pública e solenemente, o santo hábito da Ordem Terceira de São Francisco, tomando o nome de irmão José, e com ele: Mons. Magaldi, Vigário Geral; o R.P. Euclides Carneiro e o R.P. Arlindo Vieira. Em 1922, ainda, foi feita a primeira caiação interna do Santuário, com despesa de 1 conto e 350 mil réis. Dona Lurdinha Rocha Cardoso ofereceu o Presépio, que custou 449 mil réis. A 21 de junho de 1924: benção da imagem do Sagrado Coração; valor da imagem: 400$000 (quatrocentos mil réis)
1925 – Superior o R. P. Aurélio de Smarano. A 28 de agosto foi fundada a Irmandade de N.S. de Lourdes, para homens e senhoras; a benção do novo Estandarte foi feita pelo Exmo. Sr. Bispo. Nesse tempo foi construída a Sacristia, os dois braços laterais da capela-mor, o salão de reuniões e o palco para teatros e festivais. Despesas da construção: 26:000$000.
1927 – Superior o R.P. Frei Vito de Martinhano, que enriqueceu o Santuário com muitos paramentos e alfaias sagradas. Mandou fazer o Arcaz da Sacristia e a bela porta da Igreja, de cedro com enfeites de bronze. Esta foi oferta da família Vilas Boas. No mês de outubro foi fundada a Fraternidade da Ven. Ordem Terceira de São Francisco; o Exmo. Sr. Bispo benzeu os novos sinos com o peso de 200, 150 e 105 quilos, no valor de 5:600$000. Benzeu também o Estandarte da Ordem Terceira. Em 1929 foi feito o Tapavento.
- X –
28 jan 1959
1931 – Superior o R. P. Frei Vital de Moema. Foi inaugurada a lápide, colocada no Adro da Igreja, em homenagem em honra ao grande benfeitor Dr. José Cardoso de Almeida. Benção da imagem de N.S. da Piedade, oferta do sr. Barão do Amaral e esculpida pelo grande artista Giácomo Scopoli.
1933 – Superior o R. P. Frei Bernardo de Vezano. O sr. Fernando Palú fez a doação do relógio da torre, no valor de Cr$ 5.000,00.
1936 – Superior o R. P. Frei Vital de Moema. Decoração da Capela Mor, pelo grande artista na pintura Pedro Gentili e seu irmão Ulderico – Cr$ 11.000,00.
1938 – Superior o R.P. Frei Modesto de Taubaté. Pintura externa do Santuário: Cr$ 4.000,00. Fundação da Congregação Mariana.
1939 – Superior o R.P. Frei Liberato de Gries. Fundação do Apostolado da Oração, dia 29 de Maio. Novos altares: Coração de Jesus e São José, no valor de Cr$ 16.000,00. Nova mesa da comunhão: Cr$ 6.000,00. Os dois lindos quadros de Santo Antonio e das Almas: Obra do Marcineiro Nino Françoso de Pinhal. Decoração de toda a Igreja e reforma do Nicho de N.S. no Altar Mor, pelo pintor Pedro Gentili.
1945 – Superior o R.P. Frei Bernardo de Vezano. A 23 de janeiro o Exmo. Sr. Dom Luiz fez a solene sagração do Santuário. A 27 de junho faleceu o R.P. Frei Bernardo, mui estimado e querido pelo povo. A 2 de fevereiro de 1944: fundação da UNIÃO DAS DAMAS DE CARIDADE para auxiliar os pobres.
1948 – Superior o R.P. Frei Celestino de Itu. Mandou fazer os dois artísticos confessionários, pelo marcineiro Nino Françoso\; Cr$ 10.000,00, oferta do falecido Pio Gargiuli. Nova e linda Via-Sacra, oferta da família do falecido Albertino Iasi: Cr$ 5.000,00.
1950 – A obra do “Avançamento” da Estrada de Ferro Sorocabana, por intermédio do Dr. Amando de Barros Sobrinho, advogado da Companhia, financiou a pintura externa do Santuário (Cr$ 36.000,00) e a balaustrada do muro em frente à Igreja: Cr$ 14.000,00.
1951 – Superior o R.P. Frei Policarpo de Spera. A irmandade de N.S. de Lourdes foi transformada em “Pia União das Filhas de Maria”, por decreto do Exmo. Sr. Bispo Dom Frei Henrique Trindade, a 1º de janeiro de 1951. Quase no fim do triênio, o R.P. Frei Policarpo mandou derrubar os pequenos salões das Irmandades e lançou os alicerces do grande prédio das “Damas de Caridade”.
1954 – Superior o R.P. Frei Atanásio de Piracicaba. Durante três anos empenhou todo seu zelo na grande obra, que deixou coberta. O atual Guardião, R.P. Frei Liberato de Gries (desde 1957) está para leva-la ao fim. Mas, no vasto e majestoso salão-teatro, já se representam belas festas populares e, na parte térrea, as piedosas “Damas de Caridade” continuam a ajudar numerosas famílias necessitadas e esperam melhorar e alargar cada vez mais, sua generosa Obra de Assistência Social. Foi retocada toda a pintura da igreja e pintado o pátio da entrada e, ultimamente, envernizado os bancos.
Interessante a reportagem. Estava procurando informações sobre o Frei Vigilio de Breguzzo. Frei Vigilio frequentava a casa da sua prima Angela Bonazza, avó do meu pai, em São Paulo (bairro da Lapa) em época da Páscoa. Nasceu em Breguzzo em 17/11/1862 e chamáva-se Felice Agostino Bonazza, filho de Andrea e Maria Bonazza. Morreu na cidade de Taubaté em 16/05/1949 com 88 anos. Foi sepultado no jazigo dos frades capuchinos na mesma cidade.
ResponderExcluirTenho algumas correspondências dele dirigida aos seu parentes. Caso alguém tenha mais informações escrevam para e-mail eduvalenti@gmail.com
Ótima a reportagem, pois estava na verdade procurando a reportagem de como surgiu a igreja nova de são benedito, ppois a velhaa havia sido demolida e como chegou na atual, vc tem alguma coisa a respeito. Me envie. Agradeço antecipadamente.
ResponderExcluiremail: sgt-ferrari@ig.com.br