Um espaço democrático de cultura


MONTY PYTHON - GORILA BIBLIOTECARIO
(O CCB é um pouco M.Python, tem cultura anárquica e irriquieta....)

Uma ideia circula entre advogados e até andou sendo ouvida pelo prefeito e vereadores de Botucatu, sugerindo que o acervo e serviços do Centro Cultural de Botucatu sejam transferidos para o prédio da futura Pinacoteca do Estado, que será instalada no antigo Fórum de Justiça, (projeto de Ramos de Azevedo).

Uma ideia, em primeira análise interessante, pois seria um dos instrumentos de cultura que se somaria em termos de atração de público, pois já tem o seu cativo, graças ao cineclube de alunos do IB da Unesp, diversos de cursos de línguas, lançamentos de livros, exposições artisticas, entre outras, sem a elegancia de similares, mas que humildemente faz valorizar a mostra ou o que se tem para ser dito e ouvido.

Os livros que estão há quase 70 anos abrigados pelas sucessivas diretorias do Centro Cultural de Botucatu, embora sejam de uma 'sociedade privada", estão sempre à disposição de interessados que buscam as regras de associação, caso queiram retirar o livro ou poderá ler na propria biblioteca.

O Centro Cultural de Botucatu, muito mais que um simples depósito de livros históricos e arquivo de, ao menos um exemplar, de todos os jornais já editados na cidade, é muito mais, pois tem alma irriquieta.

O CCB sempre apoiou as iniciativas que ajudaram a impulsionar o desenvolvimento da cidade, cedendo seus espaços para industriais, comerciantes e estudantes discutirem seus problemas, quando faltavam espaços publicos para essa finalidade

Lá no Centro Cultural aconteceram as reuniões que permitiram fundar a União das Associações e Sociedades Amgos de Bairros, a Unasab's, Liga dos Estudantes de Botucatu, Grupos de Teatro de Jayme Sanches, Marco Pinheiro, Julião; reuniões da Fundação Kellog's, Fundação UNI. Movimento Pró Diretas, Fora Collor, do MST, dos Rosa Cruz, antes de conquistarem com apoio da então diretoria do CCB o espaço que tem hoje.

Entender o anárquico, apertado e modesto espaço do Centro Cultural de Botucatu como simples biblioteca, (que é o que parece), é reduzir a importancia da entidade e dos associados que são, um completamente diferente do outro, em termos de idade, poder econômico e até mesmo de cultura. Muitos frequentadores do CCB não precisam dos livros que estão nas estantes, pois os tem em casa, mas estão animados em contribuir com os que buscam a luz do saber pelas proprias pernas.

No CCB aconteceram diversas reuniões que culminou com o Movimento Anti Manicomial, hoje uma forma moderna de tratamento de doentes com transtornos diversos.

No CCB foi fundado nos anos 80, a primeira entidade de defesa ecológica, o Movimento Ecológico Verde Vida, tentativas de organizações de gremios estudantis de inúmeras escolas, entre tantos outros movimentos reivindicatórios da comunidade.

Os artistas plasticos da cidade tiveram entre seus primeiros pontos de exposições ainda nos anos 70, o CCB...

Como se percebe o Centro Cultural de Botucatu nos últimos anos sempre foi um espaço de livre manifestação cultural, seja ela artistica ou em debates e discussões sobre as formas de compreender o mundo em que vivemos.

Quando a OAB não tinha sede propria, não houve problema em dividir o espaço, (intermediado pela Prefeitura de Botucatu) permitindo que a entidade contribuisse na realização de inumeros eventos de interesse dos advogados e profissionais ligados à área do direito.

Destaque-se que os olhos mais ambiciosos dos advogados não são únicos. Entra prefeito, sai prefeito, tem sempre um ou outro que também sonha em ampliar a prefeitura em direção ao CCB. aliás a vinda da OAB dividir o andar superior, ajudou a reduzir esse assédio do executivo. Até a Câmara de Botucatu, quando não tinha sede, sonhou com aquele espaço.

Misteriosamente ninguem se interessa pelo teatro ao lado, que pertence a uma entidade privada semelhante ao CCB e é alugado para uma empresa de cinema. Ninguem sabe e nunca se viu um edital de convocação de associados do tal grupo de teatro da Escola Normal Cardoso de Almeida - Taenca.

As duas entidades (OAB e CCB) podem compartilhar o mesmo espaço, compreendendo que em breve, o trabalho e a movimentação de advogados estarão concentrados quilometros a frente, quando for inaugurado o novo Fórum.

Mais que uma 'divergência de bons vizinhos', manter o CCB é garantir um espaço de livre manifestação e organização social.

A OAB por sua história e luta pelo interesse público sabera compreender que as prateleiras e estantes do CCB precisam estar 'fincadas' no ponto central de Botucatu, como um espaço fixo de resistência do saber, tido desde o século passado como um dos orgulhos botucatuenses.

O CCB sempre foi referencia para reuniões públicas, base da democracia. Chapas de advogados adversários pela diretoria dessa entidade já usaram o CCB, para discutir a OAB local, do Estado e do Brasil. Nem todos os advogados concordam em apear o CCB depois de quase 70 anos de existencia e pelo menos uns 50 no mesmo endereço. (Se não me engano até sobreviveu a um incendio)

Muitos fundadores da OAB local e dirigentes posteriores eram usuários do CCB. (Me lembro de vários e um em especial, que vivia conferindo se, um ou outro volume da obra de Jean-Jacques Rousseau era semelhante ao de seu livro em casa, o Dr Agostinho Torres, que pelos advogados foi homenageado com seu nome identificando o Tribunal do Juri do Forum de Botucatu. Posso até imaginar ele dizendo pra deixar os velhinhos da diretoria lá com aquela molecada de jeito estranho que frequentam o espaço.

Bom seria amanhã acordar e imaginar que tudo não foi um roteiro dramatico da turma de video, cinema e teatro que frequenta o CCB, com apoio dessa molecada que inventa 'historias' na internet. Bom seria saber que a OAB é defensora do CCB no mesmo chão há muitas décadas.

ERA UMA VEZ NA BIBLIOTECA

(Curta Metragem gravado na Biblioteca do Centro Cultural) dez/2008

Foi no CCB que este vídeo foi gravado e venceu uma das categorias do Festival do Minuto
MÃONÓLOGO


hdoa
leu muitos livros do acervo CCB, doou poucos e participou de centenas de reuniões para mudar o mundo e para defesa de alguma coisa, como o CCB. Também foi membro da diretoria, quando tinha muito cabelo!
Valorize sua biblioteca
Valorize o CCB


PS - Ir à Pinacoteca é somar no valoroso e nobre espaço que se formará, mas é apagar a alma anárquica e irriquieta dos que trabalham na cultura e transformação da sociedade e precisam de espaço para encontros e discussões sobre a vida, essa danada que de vez em quando coloca a necessidade de procurarmos sempre um advogado, que invariavelmente recorre aos livros para nos defender. Por isso são bem pagos. No CCB, precinho para folhear os livros é baixinho e anual...

Comentários

  1. É triste viver num mundo onde a cultura é tão subvalorizada...

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  2. Prezado Haroldo,
    Você sabia que parte das terras do Tênis Clube pertencem ao Estado?Ali já foi uma cadeia pública, posto de saúde, pátio de ginástica para as alunas do IECA/EECA. Botucatu tem outros espaços públicos que poderiam ser ocupados, porque tirar os espaços da cultura?

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  3. O CCB também abrigou a ONG Paratodos e a SOS Cuesta de Botucatu (emprestava a sala para reuniões), pelo menos no período em que colaborei nestas 2 ongs.

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